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Pesquisa da FGV aponta aumento da desigualdade social após a pandemia

Historicamente, a população brasileira sempre foi marcada por uma enorme desigualdade social e econômica; a pandemia de Covid-19 intensificou essas diferenças e colocou novos desafios para a sociedade em geral. Isso é o que aponta uma pesquisa realizada pela FGV Social, que uniu a base de dados do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) à da Pnad Contínua realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

O estudo mostrou que o Índice de Gini – utilizado para medir o grau de concentração de renda e apontar a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos –  chegou a 0,7068 em 2020, valor é superior ao 0,6013 calculado apenas na Pnad Contínua. Cada 0,03 ponto corresponde a uma grande mudança da desigualdade e quanto mais perto de 1, maior é a desigualdade. O fato é que houve um aumento na desigualdade entre os mais pobres e mais ricos no Brasil, principalmente devido ao efeito da pandemia sobre a classe média. 

Continue lendo esse texto para entender mais sobre a pesquisa e o impacto da pandemia na realidade brasileira. 

Entenda a pesquisa 

O Mapa da Riqueza, publicado pela FGV Social em fevereiro de 2023, mostrou como a pandemia afetou esse cenário de desigualdade social entre brasileiros e brasileiras e também mapeou a distribuição da riqueza no país. 

Os dados do IRPF gerados pela Receita Federal foram utilizados pelos pesquisadores(as) para identificar os residentes no país com maior poder de compra. Segundo o estudo “O IRPF consegue captar melhor a renda proveniente do ganho de capital, como os lucros no mercado financeiro ou distribuído pelas empresas, por isso traz mais realismo para o rendimento dos mais ricos.” (FGV Social, 2023). 

Embora o IBGE tenha calculado o Índice de Gini em 0,6013, a pesquisa da FGV mostra que o indicador teria subido de 0,7066 para 0,7068 em 2020. Pesquisadores(as) também constataram que, mesmo com o auxílio emergencial, a desigualdade brasileira não caiu durante a pandemia. Enquanto os(as) mais ricos registraram perdas de apenas 1,5%, a classe média (que perdeu empregos e não tinha acesso à ajuda do governo) perdeu 4,2% de seus rendimentos. 

Isso pode ser explicado pelo aumento da inflação na época, associado ao alto índice de desemprego, que afetou principalmente os brasileiros e brasileiras que se encontravam na classe média. Ou seja, não estavam em uma situação de pobreza, mas viram seus rendimentos caírem bastante durante o isolamento. 

Além de analisar esse impacto da pandemia, o Mapa da Riqueza mostrou que as cidades com maior concentração de renda do IRPF por habitante são Brasília, no Distrito Federal; e as capitais São Paulo e Rio de Janeiro. Outros municípios que tiveram destaque foram Florianópolis, em Santa Catarina; Porto Alegre, no Rio Grande do Sul; e Vitória, no Espírito Santo. Enquanto o DF se destacou como a Unidade da Federação com maior declaração de patrimônio por habitante (R$95 mil), no outro extremo está o estado do Maranhão, com R$6,3 mil. 

Essa análise geográfica da riqueza brasileira também traz informações importantes sobre a realidade do país e serve para guiar a implementação de políticas públicas voltadas para o combate à pobreza. 

O impacto da pandemia 

Inúmeros pesquisadores(as) já mostraram como a pandemia escancarou as desigualdades de gênero, raça e classe que já existiam na sociedade. Por isso mesmo, não é de se espantar que ela tenha também intensificado essa discrepância entre a renda dos mais ricos e dos mais pobres em nosso país. De acordo com o IBGE, o número de desempregados chegou a 15,2 milhões no primeiro trimestre de 2021, o que representou uma taxa de 14,9%. Por isso mesmo, as pessoas que compõem a classe média viram seu orçamento diminuir bastante durante a pandemia. 

Em situações de crise econômica e sanitária como esta, as pessoas mais pobres sempre acabam sendo desproporcionalmente afetadas, por serem mais vulneráveis.

“Em momentos agudos como o que vivemos com a pandemia, mas também com um governo que nunca priorizou políticas públicas de enfrentamento das desigualdades, a tendência é que rapidamente a classe média baixa perca suas conquistas de mobilidade social. O colégio particular é substituído pelo ensino público; o plano de saúde é abandonado; a lista de compras nos supermercados é diminuída” explica Athayde Motta, antropólogo e diretor do Ibase.

Motta também ressalta que entre os grupos atingidos de forma ainda mais perversa estão as mulheres e a população negra. “Não é difícil perceber que a população mais vulnerável é justamente a composta por mulheres e negros. São os que sofrem com o racismo, machismo e toda discriminação que os coloca de forma desfavorável no mercado de trabalho” garante. 

Para o antropólogo, embora o Governo Federal tenha implementado o auxílio emergencial para pessoas mais pobres nesse período, o aumento significativo do desemprego e da inflação diluíram os efeitos da medida. 

Perspectivas  

Em 2023, o novo Bolsa Família de R$600 mensais – acrescido de R$150 por criança de 0 a 6 anos e de R$50 em caso de gestação – surge como uma forma de amenizar a situação da desigualdade extrema e suas consequências como fome e desnutrição. A volta do programa Minha Casa, Minha Vida e a reativação do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional) também buscam avançar na proposta de diminuição da miséria no país. 

Aqui no Ibase nós também trabalhamos para diminuir essa desigualdade social.

Em novembro de 2022, lançamos a Campanha Prato Cheio de Sonhos que, em parceria com onze organizações locais do Complexo do Alemão, identificou 740 crianças de 0 a 6 anos em situação de insegurança alimentar, o que inclui quadros de fome e/ou desnutrição. Para cada criança, a família recebeu um cartão alimentação, com três recargas mensais de R$150.

O total de recursos investido pelo Ibase foi de R$333 mil.  Na busca de uma maior igualdade entre brasileiros e brasileiras, lançamos também em 2022 o Fundo Beija-Flor, uma iniciativa para angariar recursos para ações de combate à pobreza e de promoção da cidadania. 

Apoiar o Ibase é contribuir para a construção de um Brasil mais justo e solidário. Venha conhecer o Fundo Beija-Flor e ajude-nos a combater a fome e a injustiça social. 

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