Por Ana Redig
Saí de Betinho, a Esperança Equilibrista realizada e feliz! O longa-metragem de Victor Lopes que concorre a melhor documentário na Première Brasil do Festival do Rio é mais do que um registro histórico importante. O filme é informativo, emocionante, engraçado e muito humano, além de fundamental para que relembremos este brasileiro raro e esta época única para o país. O filme também é essencial para que a geração que não conheceu o sociólogo Herbert de Souza.  Estou torcendo!
Conheci Betinho em 1994. Minha ex-professora de faculdade e mentora profissional, Sonia Aguiar, me telefonou: “Sei que você está bem empregada, mas tenho uma proposta que você tem que escutar ou vai se arrepender”. A proposta era criar um jornal do zero. E não era qualquer jornal, era o jornal da Ação da Cidadania. Quem resiste?? Eu não! Saímos desata reunião com a equipe do Jornal da Cidadania montada. Cheguei em casa, escrevi minha carta de demissão e nem me lembro do dia em que deixei o trabalho anterior.
Da primeira vez que vi o Betinho, já integrando a equipe que ele liderava, me comovi como sua aparência. Lembro-me de ter entrado na redação um tanto impressionada: “Cruzei com o Betinho aqui na rua…ele está tão fraquinho…”. Sonia rebateu de imediato. “Seu corpo está fraquinho. Aguarde a primeira reunião com ele”. Ela estava certa. Betinho tinha uma força e uma intensidade contagiantes, além de um dom incrível de atrair a atenção de seus interlocutores, com seus grandes olhos claros e seu raciocínio rápido, simples e bem humorado.
O Ibase, como a Ação da Cidadania, mudaram completamente a minha carreira e a minha vida. Deixei a imprensa diária pelo Terceiro Setor onde passei a fazer parte de algo maior: um time que trabalhava por mudanças. No país, na cidade, na relação entre os homens. Não havia diferença entre trabalho, ativismo, amizades, vida pessoal. Vivíamos aquele momento por inteiro. Eu e todos os que orbitavam o Ibase. Gente de todos os tipos e credos. Gente simples como D. Terezinha, gente importante, como ministros, secretários e até futuros presidentes. Que lugar bom para se pensar!!!
Alguns anos mais tarde, quando a Império Serrano quis homenageá-lo e fomos à tradicional Escola de Samba carioca. Betinho temia ser homenageado como um santo ou um mito, mas topou fácil que enaltecessem sua obra. Neste dia conheci seu filho mais velho, Daniel, e nos tornamos grandes amigos. Fizemos muitos trabalhos juntos depois da morte de Betinho. Há cerca de um ano e meio ele me ligou com um pedido: “Em 2015 meu pai faria 80 anos e queremos fazer um filme pra marcar a data. Queria que você fizesse a sinopse e o argumento do filme.” Quem resiste? Eu não…
Quando a pré-produção começou, a Documenta Filmes me convidou para participar da equipe de pesquisa. Eu, Daniel e Victor Lopes, o diretor, fizemos algumas reuniões. Independentemente do formato final, ficou combinado que faríamos um filme do qual o Betinho gostasse. A emoção começou já nesta fase, ao rememorar revirar horas e horas de fitas com anos inesquecíveis da vida de muita gente, inclusive da minha. Queríamos mostrar para o público a pessoa, sem mitificações, além do que lhe cabia na vaidade: a felicidade e a alegria de realizar coisas importantes.
Fiz questão de só assistir Betinho, a esperança equilibrista finalizado. Na sala escura, em tela grande, foi impossível me conter. Fui às lágrimas diversas vezes, como a maior parte da plateia.
Obrigada, Daniel, pela confiança. Obrigada Documenta Filmes, obrigada Victor Lopes! De coração, acho que Betinho teria adorado!!!
No dia 29 de outubro o documentário entrará em circuito. Não perca!

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