Por Moema Miranda e Augusto Gazir
texto originalmente publicado na revista Democracia Viva 47


Ilustração por David Amen.

No Rio de Janeiro dos megaeventos Copa do Mundo e Olimpíadas, pouco ainda se fala sobre a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, que será realizada na cidade, em 2012. A Rio + 20, no entanto, precisa ser para a cidadania um evento de grande relevância, um momento em que se discuta os projetos hoje em disputa sobre o futuro do planeta.
A sociedade civil organizada do Brasil e de vários outros países já iniciou a preparação da Cúpula dos Povos para a Rio + 20 por Justiça Ambiental e Social, evento paralelo ao encontro oficial da Organização das Nações Unidas (ONU). A Cúpula dos Povos se inspira no Fórum Global da Rio-92, o primeiro grande encontro da sociedade civil mundial, no Aterro do Flamengo, há 20 anos. O objetivo da cúpula é, em poucas palavras, garantir uma Rio + 20 pra valer, pela sustentabilidade da vida e do planeta.
Duas décadas depois da Rio-92, apesar de a crise ambiental ter se agravado e conquistado maior visibilidade, o debate público sobre o tema, os acordos oficiais, as demonstrações de vontade política para resolver os problemas são muito acanhados diante do que precisa ser feito.
A Rio + 20 oficial não tem ainda um perfil definitivo, mas até o momento mal se comprometeu a retomar os debates da Eco-92. Os assuntos em destaque são a chamada “economia verde”, termo ainda em disputa, mas na maioria das vezes aplicado para medidas de responsabilidade socioambiental, e a governança global, como a criação de uma agência da ONU para o meio ambiente. Tais propostas se assemelham a tratar com band-aid um caso de fratura.
A Cúpula dos Povos quer pressionar as Nações Unidas e os governos nacionais a, junto com a sociedade civil, discutir a fundo as causas dos problemas socioambientais. Sem uma mobilização social forte, o debate dificilmente será ampliado. E precisa ser. A crise é civilizacional, e um novo paradigma de civilização precisa ser discutido e praticado desde já. A busca do desenvolvimento e do crescimento econômico como um fim em si mesmo, ou como indispensável para reduzir a pobreza, está na raiz da crise. As soluções estão além do que o mercado quer e pode oferecer. Organização dos Estados, hábitos de consumo, modelos de negócio, relação do ser humano com a natureza precisam passar por uma transformação radical.
A Cúpula dos Povos pretende integrar a cidade do Rio de Janeiro com toda essa discussão, conectando-a ao mundo como em 1992, pois as mudanças ou serão coletivas ou não serão. A cúpula juntará movimentos ambientalistas, feministas, negros, indígenas, urbanos, de trabalhadores, sem-terras, quilombolas, lideranças comunitárias, cidadãos e cidadãs em geral, para debater uma nova forma de se viver neste planeta. O encontro quer ser um espaço comum, amplo e diverso da sociedade civil mundial, capaz de reunir diferentes perspectivas e vinculações políticas.
A intenção na cúpula é ir além dos debates, identificar pontos em comum para uma estratégia conjunta, apresentar propostas concretas, acordos, iniciativas transformadoras em curso, como as de economia solidária no Brasil. Os novos valores e práticas políticos da experiência do Fórum Social Mundial são valiosos para a organização da cúpula. As mobilizações da Praça Tahrir e de Puerta del Sol, idem. O desafio de valorizar a diversidade, sem fragmentar-se, não é pequeno. A missão da cúpula, tampouco. A humanidade que destrói o planeta é a única que pode salvá-lo. A Cúpula dos Povos tem a tarefa de fortalecer a consciência coletiva para essa responsabilidade.
Para saber mais:

publicação do Grupo de Reflexão e Apoio ao Processo Fórum Social Mundial (Grap),
do qual o Ibase faz parte, também disponível em inglês

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