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Tragédia em Petrópolis: onde estão as vozes da sociedade civil?

por Athayde Motta, diretor do Ibase

A cobertura da mídia sobre as enchentes em Petrópolis (RJ), tem ignorado constantemente as vozes das organizações da sociedade civil (OSCs). O mesmo aconteceu nas últimas tragédias na Bahia e em Minas Gerais. Além dos analistas de praxe, de representantes das classes políticas e das vozes oficiais, surge sempre uma nova leva de experts, alguns com credenciais sólidas, mas perpetua-se a exclusão de setores com legítima representação social. Porque as vozes das OSCs estão sempre ausentes? 

Quando as matérias focam nos impactos locais e nas ações emergenciais, não se menciona que, na maioria esmagadora dos casos, organizações de base e movimentos sociais têm atuado antes, durante e depois das tragédias na defesa dos direitos dessas comunidades e demandando políticas de urbanização, saneamento e moradia. Em vários locais, há lideranças capazes de falar com a imprensa e de questionar representantes do setor público. Ainda que exponha a ausência ou incapacidade criminosa dos governos, a mídia raramente ouve aqueles e aquelas que demandam soluções durante anos sem resposta.  

Há ainda várias ONGS de atuação local e nacional que produzem conhecimento e elaboram propostas de políticas públicas—sempre com a participação dos moradores—que podem contribuir para solucionar vários tipos de problemas. Ao invés de ouvi-los, opta-se sempre por entrevistar pesquisadores da academia, cujo trabalho é devidamente reconhecido, mas que não substituem a pesquisa aplicada (feita pelas comunidades ou com elas e para suas necessidades) ou as ações de defesa de direitos que essas mesmas comunidades implementam. Com esse padrão, a imprensa brasileira reiteradamente ignora ativistas brasileiros enquanto não parece ter problema algum em dar destaque a ativistas estrangeiros como Greta Thunberg ou Stacey Abrams, cujos trabalhos são realmente valorosos. 

Ignorar OSCS e movimentos sociais cuja contribuição é fundamental para a solução de problemas tão graves em nosso país é parte de um problema maior em nossa sociedade: a constante desvalorização e criminalização do ativismo social e do ecossistema de organizações e movimentos que constituem a sociedade civil brasileira. A criminalização atingiu níveis tão graves que o Brasil se destaca como um país violento para ativistas, campeão mundial na morte de defensores do meio ambiente, por exemplo, e que, passados quatro anos, ainda não solucionou o assassinato de Marielle Franco (uma ativista que virou vereadora) e de seu motorista, Anderson Gomes . E parece ser apenas nessas horas, como vítima da violência, que a sociedade civil ganha algum destaque na mídia. 

O papel e a importância da sociedade civil no Brasil ao longo dos últimos 35 anos está devidamente documentado e reconhecido em vários espaços e é praxe que governos estrangeiros com ações no Brasil a procurem para ouvir suas demandas e ideias. Mas desde o golpe que derrubou Dilma Rousseff e da eleição de Bolsonaro, a sociedade civil é tratada com a pecha de “terrorista” por fazer um trabalho fundamental para a consolidação da democracia no país. Já é hora da imprensa brasileira reconhecer isso e abrir espaço para a sociedade civil e as milhares de vozes que a compõem. 

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