Artigos

O novo que é velho, a comunicação que engana

Athayde Motta, diretor do Ibase

Em meio ao processo eleitoral mais complexo e tenso dos últimos anos, há duas questões fundamentais que a sociedade brasileira deverá discutir após o pleito. A primeira trata do que pode ser considerado novo – ou inovação – na política; a outra será como discutir a comunicação digital e evitar os óbvios abusos que estão sendo cometidos. São tarefas fundamentais para as organizações da sociedade civil (OSCs), mas também importam para profissionais e para pesquisadores de ciência política e comunicação.
Durante os últimos 30 anos, as OSCs brasileiras trabalharam arduamente para aprimorar o processo político brasileiro, tornando-o mais transparente, ético e aberto à participação e ao controle social. De processos eleitorais à formulação e implantação de políticas públicas, consolidar e aperfeiçoar a prática política como elemento fundamental da democracia tem sido tarefa constante para organizações de base, grupos comunitários, movimentos sociais e ONGs.
Os atores principais do “ativismo” que setores conservadores da sociedade agora querem extinguir por completo são os mesmos que buscam por soluções inovadoras com o intuito de renovar a política – e também acabar com a pobreza e as desigualdades, promover a inclusão social ampla e garantir direitos para todas e todos. Como explicar que políticos conservadores com longa atuação na cena política e arrivistas sem histórico de atuação pelo interesse público se vendam como o “novo” e convençam milhões de que o são de fato? Porque o discurso “antissistema”, que era utilizado por aqueles que desafiavam as convenções sociais e as tradições conservadoras, como os anarquistas na política e os hippies na cultura, são utilizados por figuras que são a expressão máxima desse mesmo sistema?
Há várias respostas e explicações sendo produzidas para explicar esse fenômeno e não cabe aqui listá-las. O ponto principal que quero fazer aqui é que entender, debater e denunciar o falso discurso antissistema vindo daqueles cujo único objetivo é defender tal sistema é uma das tarefas urgentes que se colocam para que possamos garantir que haverá política e democracia no futuro do país.
A outra tarefa urgente é debater as formas de comunicação digital e o mau uso que se faz delas para fins eleitorais, prática que, aparentemente, pode ser facilmente estendida para o debate público mais amplo (o exemplo de Trump nos EUA com o uso do Twitter é o primeiro que vem à mente). Esse também é um fenômeno que vem sendo discutido em vários países e que, hoje, ameaça a existência de uma imprensa livre baseada em regras éticas sobre apuração, investigação e difusão de textos e imagens. Ouço frequentemente que setores progressistas têm perdido espaço no debate público e base social porque não sabem mais se comunicar com a sociedade, dos setores mais pobres às camadas médias.

Exemplo de informação que circulou em grupos de Whatsapp, principalmente nos ligados a evangélicos. A reprovação do conteúdo, feita pelo Ibase, é para exemplificar algo que não pode mais ser tolerado.

Se isso é verdade, em certos aspectos, não me parece que seja a questão fundamental nesse momento. O que estamos vendo é a total violação da comunicação como direito humano fundamental. Isso quer dizer que a comunicação não está sendo exercida como uma atividade de interesse público e de caráter fundamental para o desenvolvimento sociocultural da população, apoiada pelo direito humano inalienável de expressar, receber, difundir e investigar a veracidade das mensagens. Portanto, se todas e todos têm o direito de se comunicar por quaisquer meios físicos ou digitais, é também imperativo que isso seja feito de forma ética e com base em regras e métodos que defendam e protejam o interesse público e contribuam para o desenvolvimento do país.
É um erro reduzir a questão a um embate entre métodos que seriam ineficientes por diversas razões (especialmente a doença do “jargonismo”), utilizados por setores progressistas, e as formas comunicacionais supostamente eficazes utilizadas pelas igrejas neopentecostais e por políticos conservadores. O que os últimos fazem não é comunicação como direito nem tampouco é algo espontâneo. Já há evidências suficientes de que profissionais a serviço de forças políticas conservadoras são pagos regiamente para aplicar formas de comunicação cujo objetivo primeiro é causar reações emocionais extremas e a defesa ferrenha de ideias fundamentalmente antidemocráticas, fazendo uso irrestrito da manipulação de informação baseada em fatos inventados e mentiras de todo o tipo sobre indivíduos e organizações. Desta forma, chegou-se a um momento na história do país no qual a defesa do direito a uma comunicação baseada em práticas éticas e responsáveis tornou-se uma questão fundamental para a manutenção da democracia.
Ainda que seja difícil avançar nesses dois temas em meio à disputa eleitoral, ambos passam a ter importância inegável para a defesa e consolidação da democracia brasileira. Não há novidade na política se não houver o conhecimento profundo do sistema político e de suas regras, mesmo que o objetivo de forças políticas realmente novas seja o de mudar tais regras. Mudanças são sempre bem-vindas, mas jamais podem ser uma ameaça à democracia. E tal espírito inovador deve ser comunicado à sociedade de forma ética porque esse é um direito humano fundamental. Violá-lo também é um rompimento com as regras do jogo democrático e com o amadurecimento do debate público.

Tradução »

jepe500

slot resmi

slot

slot dana

slot zeus

slot

rejekibet

88id

jkt8

slot pg

jayaslot

slot88

oppo500

toto slot

slot777

slot maxwin

jayaslot

slot maxwin

slot mahjong

slot

slot

INK789

slot zeus