Rogério Daflon
Do Canal Ibase
Diretora do Ibase, a antropóloga Moema Miranda diz que o Fórum Social Mundial (FMS) da Tunísia – realizado no mês passado, em Túnis – fortaleceu as instituições do país da África do Norte. Assim, diz a antropóloga, a próxima edição do FMS pode ser, novamente, na região do Magrheb e Machrek devido justamente às intensas mudanças ocorridas ali. Nesta entrevista, Moema discorre sobre o tema e explica os critérios de escolha do FSM.
Canal Ibase: O primeiro FMS foi em Porto Alegre em 2001. Houve algum motivo para isso?
Moema Miranda: Porto Alegre, onde se criou o orçamento participativo, era então uma referência no aprofundamento do processo de democratização, e o Fórum se alimentou do espírito de Porto Alegre. Tanto que, nas duas edições seguintes, em 2002 e 2003, o Fórum também ocorreu em Porto Alegre. Quando o Fórum passou a acontecer em cidades de outros países, essa vinculação entre os grandes momentos de mudança local e o próprio Fórum se manteve. Em 2004, por exemplo, o tema dos dalits apareceu com força na Índia. Em 2009, em Belém, temas como a defesa da terra, o bem viver como novo paradigma e os povos indígenas foram alguns que permearam a discussão sobre a região amazônica.
CI: Dentro desse contexto, como foi o FSM na Tunísia?
MM: Em Túnis, o Fórum aconteceu em pleno processo de redemocratização da Tunísia (Em janeiro de 2011 uma revolta popular derrubou o ditador da Tunísia, Zine Ben Ali). O fato de o encontro ser naquela nação fortaleceu o diálogo entre os órgãos institucionais e os movimentos sociais. Uma série de questões envolvendo a democracia estão postas ali, desde a formação de uma assembleia constituinte, do aprendizado de como a polícia se comporta num regime livre do totalitarismo, entre outras. Por isso, já há discussões de o próximo FSM ser na região da Primavera Árabe novamente.
CI: Como foi a participação dos jovens em Túnis?
MM: Tiveram presença intensa em todas as atividades e, em algumas delas, estavam à frente de organizações de seminários.
CI: Existiu alguma autocrítica da organização do FSM, da qual o Ibase faz parte, após a edição de Túnis?
MM: Precisamos assegurar uma participação mais efetiva dos movimentos sociais da África e da Ásia. Alguns desses movimentos têm dificuldades de pagar passagens, e têm extrema importância em suas atuações locais. No Fórum, houve intensa participação dos migrantes, e várias ações foram combinadas entre eles. Temos também de garantir que esses diferentes grupos não se dispersem e consigam ir à frente para convergência dessas ações. Temos de agir como facilitadores dessas redes.