Rio de Janeiro, 6 de março de 2015
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Por Ana Redig
Jornalista do Ibase

Desde sua fundação o tema e as questões relativas aos direitos das mulheres – bem como as de raça/etnia – estiveram na pauta do Ibase. Nos anos 1990 a instituição era grande, com muitos projetos, núcleos e uma equipe bastante numerosa. Nesta época, havia um coletivo que tratava especialmente de gênero e que contou com a colaboração de nomes de peso como Fátima Mello, Wania Sant’Anna e Rosana Heringer, só para citar algumas.
Foi com essa mulherada ativa e engajada que Antonia Rodrigues, atual coordenadora da Secretaria Geral do Ibase, começou a se envolver com a causa. Nascida no Ceará, onde já militava na Comunidade Eclesial de Base, ela chegou ao Rio, em 1986, com um objetivo claro: trabalhar com Betinho. Ela aceitou o cargo de auxiliar de cozinha até que surgisse outra vaga mais interessante.
– O que eu queria era trabalhar com ele, não importava a função.
Antonia assumiu outras funções até se tornar secretária da direção.
– A partir daí eu passei a ter um contato ainda mais direto com essas ativistas, o que foi me influenciando – conta.
Assim como outras colegas da instituição, Antonia participou de oficinas, eventos e capacitações, como a Jornada de Formação Feminista e o Encontro Nacional de Articulação das Mulheres Brasileiras.
– Essa troca de experiências, de realidades femininas de todo o país, é o que mais me encanta no movimento. E como é possível fazer tantas coisas, realizar tantas mudanças praticamente sem recursos, apenas com garra e união – admira-se Antonia. Essa convivência política foi transformando sua forma de pensar e interferir no mundo.
Hoje vivemos uma realidade bem diferente dos antigos anos 1990. O “novo Ibase”, mais moderno e enxuto, manteve a preocupação com os temas raça/etnia e gênero, que ganharam transversalidade institucional, ou seja, todos os projetos procuram incluir e trabalhar essas questões. As jovens que hoje trabalham nos projetos já chegam engajadas, e acabam por se envolver ainda mais com os temas. Fomos ouvir algumas delas para saber o que, hoje, as motiva para lutar pelo Direito das Mulheres.
Daiana da Silva é educadora e auxiliar de pesquisa no projeto Indicadores de Cidadania – A Cidadania e a Sustentabilidade Socioambiental na Área de Influência do Comperj. Seu envolvimento com o universo da luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres começou no Instituto de Educação, quando ainda cursava o Normal. Em 2004, passou a integrar o Núcleo de Mulheres Jovens do Camtra (Casa da Mulher Trabalhadora), quando participou de um projeto que visava criar uma educação menos sexista.
– Até hoje uso a metodologia com meus alunos/as do ensino básico. É muito mais fácil trabalhar essas questões com as crianças, que são mais questionadoras e ainda estão formando seus valores – observa. Hoje Daiana milita no Coletivo Feministas Luiza Mahin.
– Ainda que no Ibase não exista um núcleo específico sobre o tema, sempre procuramos dar um recorte de gênero às atividades. Aliás, de gênero e etnia/raça, até porque este Coletivo enfatiza as mulheres negras porque elas estão inseridas numa maior desigualdade. As mulheres sofrem com o machismo, mas as mulheres negras viveram e vivem uma relação de enfrentamento a diversas opressões: machista, racista, lesbofóbicas (quando também há a questão da orientação sexual…). É um grupo que foi submetido à escravidão, à violência durante a colonização, mas está sempre lutando e subvertendo esse lugar de subordinação. – completa Daiana.
Marina Ribeiro, cientista social, educadora popular e pesquisadora do projeto Cidade, mudanças climáticas e ação jovem, tem trajetória semelhante. A primeira vez que ela lidou as questões feministas de forma mais aprofundada foi em 2007, quando cursava a faculdade, no curso Mulheres e Economia.
– Nessa época minha participação era um tanto periférica, menos orgânica do que hoje, no que tange à construção das agendas e pautas do movimento, avalia Marina. Ao longo dos anos ela foi sendo incorporada ao movimento das mulheres e especialmente das mulheres negras, como Daiana.- Era importante que o Ibase tivesse um núcleo para debater os direitos das mulheres e de etnia/raça. Ainda assim, assumimos essa perspectiva em todos os debates e permanecemos atentos e ativos nas atividades levadas a cabo pelos movimentos.
Sandra Jouan, coordenadora da área de incidência Cidades e Territórios, não milita mais formalmente no movimento feminista como antes, mas também se considera uma ativista diária. Está sempre envolvida com os temas que impactam as mulheres, como no projeto Mais Valdariosa.
– A partir da consulta à população local fizemos uma parceria com a Camtra para atender às necessidades e à solicitação feita por elas. A maior parte das pessoas que integram o projeto são mulheres, mães, trabalhadoras e chefes de família.
A jornalista e comunicadora popular Camila Nobrega, editora do Canal Ibase, lembra que a mídia é um dos espaços que mais reproduz a cultura do machismo no Brasil. Por isso, para ela, a luta pelo Direito das Mulheres deve ser também no âmbito da Comunicação.
– O mote das atividades pelo 8 de março no Rio será a legalização do aborto. Este tema é abordado pela mídia tradicional em uma perspectiva que criminaliza as mulheres. Para mudar isso, nós, comunicadoras, precisamos ajudar a desconstruir este senso comum.
Na semana do Dia Internacional da Mulher, o Ibase quer homenagear todas e todos os que lutam, todos os dias, nas mínimas atitudes e nas grandes articulações, por relações mais justas e igualitárias.
Foto (da esquerda para direita): Leticia Alves, Marina Ribeiro, Antonia Rodrigues, Camila Nobrega e Daiane Silva

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