*por Cândido Grzybowski
Nestes dias, está acontecendo a COP-29 sobre mudanças climáticas num país totalmente dependente do petróleo, o Azerbaijan, e mais uma vez sob a presidência de alguém totalmente ligado ao setor, estando claro que o grande vilã das emissões na origem do problema climático é a energia fóssil. O que esperar? Muitos debates acalorados e um “acordo final de compromissos”…, que sabemos não será impositivo. Enquanto isto, a mudança climática se acelera a cada ano, devastando territórios e suas populações, no planeta inteiro. Com a destruição da integridade dos sistemas ecológicos estamos caminhando para um cenário ameaçador e desconhecido, tudo devido ao poder incontrolável dos “donos do mundo” em busca de acumulação capitalista e poder, sem limites.
Quase ao mesmo tempo, vai ocorrer na semana próxima, no Rio de Janeiro, a cúpula do G-20, dos líderes estatais das maiores economias do planeta. A intenção oficial é buscar acordos de cooperação mundial diante de um mundo em processo de grandes mudanças geoeconômicas e políticas. Mas, no fundo, é mais uma tentativa de tentar mudar para fazer sobreviver este capitalismo globalizado e financeirizado, em processo de concentração de acumulação e poder nas mãos de poucos, com os seus novos “monstros”: punhado de Big-Techs e grandes Fundos de Ações, ao lado das petroleiras, com conluio de governos de extrema direita proliferando pelo mundo. Não podemos esquecer nunca que o G-20 é cria do imperialismo americano e países aliados – o G7 (criado em 1975, entre EUA, Inglaterra, Alemanha, França, Itália, Canadá e Japão) diante das recorrentes crises econômicas, ameaças e necessidade de evitar grandes mudanças na ordem mundial.
Apesar de se realizar no Brasil – foi acordada uma rotação anual na “presidência” do grupo – com a reconhecida habilidade e legitimidade do Lula em eventos globais, além do transtorno para a população da cidade do Rio com questões de segurança para uma cúpula de Chefes de Estado e seus principais assessores, nada sairá daí, além de declaração de boas intenções. E isto diante de uma gigantesca aceleração de tudo: 1) governos de extrema direita ameaçando as democracias liberais encurraladas, nos países centrais e no Sul Global; 2) poucos dias após a vitória do extremista Trump nos EUA, com seu projeto MAGA (Make America Great Again), contando com o poder das Big-Techs e de livres emissões de dólar, sem limite – moeda ainda dominante nas transações globais – além do poderoso arsenal militar e indústria de armas, mais de 800 bases militares espalhadas pelo mundo, como pilar da economia capitlista; 3) num contexto de guerras entre Rússia x Ucrânia/OTAN, Israel x Hamas e o genocídio de Povo Palestino por Netaniahu, financiado pelos países do G-7; 4) logo após a recente reunião dos países do BRICS ampliado, que se apresenta como alternativa ao imperialismo americano e seus aliados, especialmente com transações comerciais sem dependência do dólar; 5) a questão da mudança climática como ameaça ao planeta inteiro; e 6) para não estender muito o balaio de ameaças de toda ordem, lembro aqui as questões humanitárias mais grave: a fome, a pobreza e a desigualdade social que persistem e a questão migratória, denunciando a natureza intrínseca e excludente da ordem capitalista mundial. Sem dúvidas, o Brasil, sob liderança do Lula, vai propor uma prioridade de enfrentamento global à fome, pobreza e desigualdade social. Terá algum resultado? Declarações pomposas virão, compromissos efetivos, não!
Volto a reafirmar que precisamos nos engajar em processos mais consistentes a partir do que já acontece nos territórios de vida e produção. O desafio é nos conectar e entrelaçar a partir do chão da sociedade e criar um poder mobilizador planetário, uma onda irresistível de transformação democrática radical em busca de direitos ecossociais iguais, com respeito à diversidade, com cuidado, convivência e compartilhamento entre humanos e a natureza que nos dá a vida. Mero ideal ou sonho? Sem dúvida um sonho que não sabemos quanto é compartilhado neste mundão, tornando-se um ideal que precisamos ainda disputar muito para tonar-se hegemônico. O fato é que são ideais e sonhos que movem a humanidade. Disputemos isto sem medo, com determinação e esperança diante dos que se consideram “donos” – de gente e da natureza –, aqui e no mundo todo. O que precisamos é chegar a corações e mentes, com propostas de solidariedade entre todas e todos, e assim engaiolar a fera do “mercado” excludente e destruidor!
Precisamos olhar mais para o chão da sociedade, para os territórios em que levamos a vida. Aí está a potência transformadora. Apesar do avanço dos anos, ainda guardo a gana de ativista cidadão nas ruas contra as potências estatais subservientes ao mercado e ao sistema capitalista dominante.
Termino dizendo que “sim”, devemos olhar, tentar participar e pressionar as periódicas cúpulas oficias e, sobretudo, já que nem todo mundo tem condições de acompanhar tais eventos, divulgar massivamente o que aí ocorre, para deslegitimar os discursos eloquentes, mas nada consequentes, e reafirmar que o que importa é o cuidado de gente e da integridade do planeta, da vida enfim.
*Cândido Grzybowsi é sociólogo e ex-diretor do Ibase.