No Dia Internacional da Mulher, o Ibase relembra a trajetória de oito mulheres que marcaram a história política do Brasil.
Apesar das mulheres representarem mais da metade – 52,5% – do eleitorado brasileiro, o número de eleitas ainda é muito pequeno. No primeiro turno das Eleições 2020, apenas 12,2% dos mais de 5,5 mil municípios brasileiros elegeram mulheres para o cargo de chefe do Executivo, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No caso das mulheres negras a diferença é ainda mais acentuada: elas não ocupam na mesma proporção os espaços institucionais da vida política nacional.
Mesmo com a baixa representatividade, a história política brasileira é marcada por mulheres que lutaram e lutam em defesa da equidade, da democracia e dos direitos humanos. Veja, abaixo, a trajetória de algumas delas.
Luiza Erundina
Erundina tem uma vida dedicada ao trabalho na política. Assumiu seu primeiro cargo público em 1958, como Secretária de Educação de Campina Grande, na Paraíba —estado onde nasceu. Na Paraíba participou das ligas camponesas do Partido Comunista fazendo oposição à Ditadura Militar que assolava o país. Naquela época, a participação de mulheres nordestinas na política praticamente inexistente.
Migrante, em 1971 ela chegou em São Paulo, participou da fundação do PT (Partido dos Trabalhadores) em 1980 e concorreu a cargos eletivos. Foi vereadora de São Paulo, deputada estadual e em 1986 se tornou a primeira mulher a exercer o cargo de prefeita da capital paulista. Sua carreira política continunou como Ministra de Administração Federal do governo Itamar Franco até chegar à Câmara dos Deputados, onde está até hoje, aos 87 anos.
Benedita da Silva
Benedita Sousa da Silva Sampaio, nasceu em 1942 no cidade do Rio de Janeiro, e viveu, durante 57 anos, no Morro do Chapéu Mangueira no Leme. Formada no curso de Serviço Social, iniciou sua carreira política ao se eleger vereadora do Rio de Janeiro em 1982, após militância na Associação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro. Em 1986, foi eleita deputada federal, e se reelegeu para este cargo em 1990. Na Legislatura de 1987-1991, Benedita participou da Assembleia Nacional Constituinte, onde atuou como titular da Subcomissão dos Negros, das Populações Indígenas e Minorias. Em seguida, passou à Comissão de Ordem Social e da Comissão dos Direitos e Garantias do Homem e da Mulher. Em 1992, foi candidata do PT a prefeitura do Rio de Janeiro. Em 1994, elegeu-se senadora, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar uma vaga no Senado.
Com a eleição de Lula para a Presidência da República, assumiu a Secretaria Especial da Assistência e Promoção Social, com status ministerial.
Assumiu em janeiro de 2007, a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, no Governo Sérgio Cabral Filho. Foi em 2010 eleita deputada federal pelo Rio de Janeiro.
Dilma Rousseff
Primeira mulher eleita presidente do Brasil, Dilma Rousseff tem uma longa trajetória no contexto político nacional.
Durante a ditadura militar, fez oposição ao regime, em defesa da democracia. Por sua atuação política na época, foi presa e duramente torturada.
Dilma é economista e, antes de chegar à Presidência da República, ocupou vários cargos públicos: foi Secretária da Fazenda, Ministras de Minas e Energia e Ministra da Casa Civil.
Marina Silva
Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, nasceu no Rio Branco em 8 de fevereiro de 1958, é uma ambientalista, historiadora, pedagoga e política brasileira. Foi senadora pelo estado do Acre durante 16 anos.
Foi Ministra do Meio Ambiente no Governo Lula do seu início (2003) até 13 de maio de 2008. Também foi candidata à Presidência da República em 2010 pelo Partido Verde (PV), obtendo a terceira colocação entre nove candidatos, com 19,33% da porcentagem total – expressivos 19.636.359 votos válidos em todo o território nacional.
Alzira Soriano
Numa época em que as mulheres brasileiras sequer tinham direito ao voto e política era assunto exclusivo do universo masculino, a jovem Alzira Soriano, de 32 anos, não apenas votou como disputou e venceu as eleições municipais daquele ano em Lajes, um pequeno município no interior do Rio Grande Norte.
A notícia, publicada na página 9 do The New York Times, chamava a atenção para o fato de Alzira ser a primeira mulher eleita prefeita em um país que ainda não havia permitido o sufrágio feminino – o que só aconteceria quatro anos depois, após a promulgação do Código Eleitoral de 1932 pelo presidente Getúlio Vargas.
Candidata escolhida pelo Partido Republicano, Alzira Soriano não se intimidou e venceu a eleição com 60% dos votos válidos sobre o oponente, Sérvulo Pires Neto Galvão. Diante da vergonha de ter perdido a eleição para uma mulher, Sérvulo Pires abandonou a política e a própria cidade.
Antonieta de Barros
Nascida em 11 de julho de 1901, Antonieta de Barros foi a primeira mulher a integrar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Educadora e jornalista atuante, teve que romper muitas barreiras para conquistar espaços que, em seu tempo, eram inusitados para as mulheres – e mais ainda para uma mulher negra.
Deu início às atividades como jornalista na década de 1920, criando e dirigindo em Florianópolis, onde nasceu, o jornal A Semana, mantido até 1927. Na mesma década, dirigiu o periódico Vida Ilhoa, na mesma cidade. Como educadora, fundou o Curso Antonieta de Barros, que dirigiu até a sua morte, em 1952, além de ter lecionado em outros três colégios.
Manteve intercâmbio com a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino e, na primeira eleição em que as mulheres brasileiras puderam votar e receberem votos, filiou-se ao Partido Liberal Catarinense, que a elegeu deputada estadual. Tornou-se, desse modo, a primeira mulher negra a assumir um mandato popular no Brasil, trabalhando em defesa dos diretos da mulher catarinense.
Theodosina Rosário Ribeiro
Theodosina Rosário Ribeiro foi a primeira deputada negra da Assembléia Legislativa de São Paulo. Nascida em 29 de maio de 1930 na cidade de Barretos (SP), em 1970, a maior cidade da América Latina a elege como primeira vereadora negra da Câmara Municipal de São Paulo. E, em 1974, a primeira deputada negra da Assembléia Legislativa do Estado, onde ocupou também o cargo de vice-presidente.
Theodosina formou-se filósofa, pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da universidade de Mogi das Cruzes, e advogada, pela FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas. Na vida pública, teve quatro candidaturas vitoriosas – uma como vereadora e três como deputada estadual.
Ela se tornou uma referência e estímulo para negras e negros. Depois dela, outras mulheres negras se engajaram na vida pública.
Marielle Franco
Mulher, negra, mãe, filha, irmã, esposa e cria da favela da Maré, Marielle Franco era socióloga com mestrado em Administração Pública, pela Universidade Federal Fluminense. Em 2016, foi eleita vereadora do Rio de Janeiro com quase 50 mil votos, a quinta maior votação daquela eleição. Na Câmara, foi Presidente da Comissão da Mulher e teve sua história marcada pela defesa dos direitos humanos.
Marielle foi assassinada, em 14 de março de 2018, em um atentado ao carro onde estava. 13 Tiros atingiram o veículo, matando também o motorista Anderson Pedro Gomes. Quatro anos depois, o caso permanece sem algumas respostas cruciais: quem mandou matar Marielle Franco?