Cândido Grzybowski
Sociólogo, do Ibase

O domingo, 7 de outubro de 2018, 30 anos da Constituição de 1988, vai ser lembrado como um dia de celebração democrática, apesar da enorme crise política, social, econômica e ecológica que atravessamos no Brasil, na região e no mundo. Num clima de desconstrução de direitos de cidadania e de riscos à própria democracia, é por sua existência e capacidade de resolver impasses, que foi possível a vontade popular soberana tomar posição e se manifestar, sem recorrer à força e à volta da ditadura ou, pior, sem mergulhar em aventura fascista. Bem, ao menos por enquanto, pois temos um segundo turno para presidente. Num clima de crescente intolerância e polarização em que se fez a campanha eleitoral, tivemos um dia para mostrar, com o voto igual, o que desejamos em termos políticos. Além disto, demonstramos nossas visões, convicções e valores mais profundos, que estão presentes entre nós, no seio da própria cidadania, força instituinte e constituinte da democracia.
Como analista do cenário que se desenha como resultado do primeiro turno, é forçoso reconhecer a habilidade do candidato Bolsonaro e seu grupo em disputar a hegemonia nas águas turvas de nossa crise, especialmente o descrédito na própria política e nos políticos e seus partidos. Seu discurso e seu método lembram o fascismo, de galvanização de sentimentos e paixões enrustidas, capazes de criar um movimento político. Para o sucesso do fascismo sempre se faz necessário um personagem que vocalize e encontre um ambiente que lhe dê eco.  Estou me referindo ao sucesso de Bolsonaro em disputar sentimentos e valores difusos da cidadania, mais do que um projeto de país, além, é claro, de agregar as oportunistas forças conservadoras e autoritárias, majoritárias no seio das classes dominantes do atraso e dos privilégios, atropelando partidos mais constituídos como PSDB e DEM ou frágeis como a REDE. Isso com conivência e até ativo engajamento da própria mídia monopolista, num esforço de colonizar corações e mentes.
Aqui se configura a grande e incontornável agenda de futuro para quem aposta na democracia ecossocial como método de transformação e construção de outro país, de bem viver para todas e todos, e bom para o mundo. Agenda para além do segundo turno, em 28 de outubro, na qual a consolidação, e até a vitória, da resistência democrática são condições fundamentais. Na nossa eleição deste ano, racismos, patriarcalismos, fundamentalismos intolerantes à diversidade de toda ordem, privilégios (na linguagem deles, o mérito) no lugar de direitos iguais de cidadania, patrimonialismo encravado no Estado, autoritarismo e até fascismo vieram à tona como relações estruturais, visões e valores que ameaçam a democracia. O fato que o Brasil mostrou, com estas eleições, como somos atingidos pela onda conservadora e autoritária que se alastra pelo mundo, como parte do domínio do capitalismo neoliberal, de seu desregulado poder financeiro das grandes corporações no centro e das mudanças geopolíticas que estão em curso.
Sem dúvida, a resistência à avalanche neofascista se revelou forte e com potencialidades, alimentada por um despertar de movimentos e organizações sociais, educadores populares, comunicadores e analistas, para além dos partidos. Afinal, quem não se rendeu a Bolsonaro representa ao menos dois quintos do eleitorado, isso sem contar todos os que anularam o voto, deixaram em branco ou nem compareceram as urnas. E algo exemplar e inspirador, revitalizando a resistência democrática, foi o “Ele Não”, protagonizado pelas mulheres. Cabe reconhecer, também, a habilidade do Lula desde a sua arbitrária prisão política em Curitiba. Lula, como líder da resistência, sabe captar sentimentos e angústias populares contra o discurso autoritário e excludente, alimentar imaginários e definir rumos, além de demonstrar grande capacidade estratégica de disputa eleitoral no contexto democrático. Apesar da enorme onda antipetista, Lula sai desta eleição com uma imagem de líder ímpar e patrimônio da cidadania dos e das que lutam por direitos, agregador de forças e capaz de fazer a diferença.
No contexto da resistência, cabe destacar a novidade da dupla Haddad-Manuela na eleição até aqui. O seu valor como líderes começa a se firmar para além do processo em curso e dos seus partidos. Estamos assistindo a uma renovação da política no campo da esquerda, começando por eles e indo muito além, como Boulos, Tarcísio e outros do PSOL. O processo eleitoral, independente do resultado ainda por se definir por completo, pode, finalmente, levar o PT a enfrentar uma séria e, consequentemente, profunda autocrítica de suas propostas de “reformismo fraco” (com definiu André Singer) e práticas conciliatórias em nome da governabilidade.
Mas, algo também incontornável a considerar no futuro de nossa democracia, as eleições já desenharam um claro e ameaçador polo conservador sob liderança de Bolsonaro, com seu minúsculo partido PSL, até aqui, e um verdadeiro “bando” de novos personagens desconhecidos, uma parte vindo das casernas, se olharmos para governadores e senadores eleitos. Como vai ser o amanhã? Como se reorganizarão as forças nas instâncias legislativas? Com que poder voltam as bancadas da Bala+Bíblia+Boi? Como isto vai impactar no hoje protagonista Poder Judiciário?  Como vamos lidar com as mudanças geopolíticas em curso no mundo? Uma novidade que se desenha neste campo é a perda de poder dos tradicionais “clãs” familiares. Mesmo pequena, que vitória da cidadania! Também vale destacar a possível implosão do PSDB e a redução do MDB, até aqui os maiores beneficiários de um processo político democrático de governos de conciliação. Poderemos superar este câncer limitador da democracia? Ou voltaremos ao fascismo escancarado?
O segundo turno começou hoje mesmo. É uma nova eleição. Nada está definido para o estratégico lugar de liderança do Poder Executivo. Os próximos dias serão decisivos no modo como a cidadania percebe o resultado deste 7 de outubro e como se moverão as duas forças finalistas. Novidades podem aparecer, algo que as democracias, com todas as suas limitações, são pródigas em produzir. Afinal, como método de luta que tem a virtude de construir e não destruir, em base a igualdade de direitos da cidadania, sua força reside em resultados sempre provisórios, pois o amanhã e o depois poderão ser diferentes e melhores. Quem pode fazer isto não são os candidatos, mas nós mesmos, cidadania. O jogo democrático continua e o último minuto poderá ser o da virada. Nada impossível!
Rio de Janeiro, noite de 7 de outubro de 2018

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