Como as organizações e a sociedade civil, em geral, pautam a questão da indústria extrativa no Brasil? Quais os principais problemas enfrentados por comunidades tradicionais diante do extrativimo brasileiro? Como, na economia atual, esta atividade se encaixa e quais as perspectivas em relação a ela dentro da nossa conjuntura? Essas são apenas algumas das perguntas que permearam a roda de conversa “As Agendas da Sociedade Civil Frente às Indústrias Extrativas no Brasil”.
O evento, realizado no último dia 14, em parceria com a RLIE (Rede Latino-americana sobre as Indústrias Extrativas), foi o marco de lançamento do relatório brasileiro, produzido pelo Ibase, que mapeia e analisa as questões relativas às pautas das organizações e movimentos sociais diante da exploração, principalmente, de minério e de petróleo no país. Entre os convidados, estavam Carlos Bittencourt, pesquisador da temática da indústria extrativa, Jane Silva, pesquisadora do Ibase no Pará, Rodrigo Santos, do Poemas (Política, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade), a economista Helena Marroig e Carlos Monge, do NRGI (Natural Resource Governance Insittute).
Foi Monge, aliás, quem começou o debate trazendo algumas questões que remetem ao futuro da indústria extrativa, não só no Brasil. Segundo ele, é preciso atenção para o fato da pauta do planeta sustentável, em geral, trazer uma dependência ainda maior da mineração. “Para se construir um carro elétrico, é preciso muito cobre, por exemplo. Então, pode ser que, em nome de um “planeta verde” a mineração se torne algo mais justificável do que já tem sido pelo tipo de desenvolvimento que temos”, declarou.
O aumento do conservadorismo no Brasil, o crescimento da produção do minério no país, mesmo com a queda do preço dos produtos, e as diferentes capacidades organizativas das organizações e movimentos sociais brasileiros também estiveram em pauta na roda de conversa que contou ainda com a participação de representantes do Fórum de Comunidades Tradicionais (FCT) de Angra, Paraty e Ubatuba.
Julio, indígena do povo Guarani, é um deles e trouxe a visão de quem sofre com os impactos gerados por projetos ligados à indústria extrativa. Durante a conversa, ele afirmou que os povos indígenas são o maior obstáculo ao tipo de desenvolvimento realizado no Brasil. “Nós não queremos hidrelétricas, ferrovias ou rodovias cortando os nossos territórios. Para nós, esse processo de desenvolvimento é, na verdade, um processo de morte”, ressaltou.
Para Athayde Motta, diretor executivo do Ibase, a roda de conversa se mostrou um momento importante de troca de experiências para fortalecer o debate sobre as indústrias extrativas no Brasil. “Esse evento representa os esforços da nossa instituição em realizar esse tipo de diálogo e integração entre nossos projetos. Sem dúvida, foi um exercício rico”, concluiu.