Entre os dias 15 e 20 de novembro, jovens do HUB das Pretas participaram do quarto e último intercâmbio deste ano do projeto. Desta vez, o encontro foi em Brasília e, entre as atividades previstas, houve visitas à Pedra Fundamental, ao Morro da Capelinha, à Igreja de São Sebastião e à Comuna Panteras Negras. Um roteiro pensado com o intuito de explorar e conhecer a ancestralidade presente em Brasília, sobretudo nos espaços em que as pessoas negras estão inseridas. Os intercâmbios têm o objetivo de promover trocas e formar redes de mulheres jovens negras de cidades e regiões distantes e diferentes, mas que são unidas pela diáspora africana. Antes de Brasília, as jovens do projeto também estiveram em São Paulo, Recife e Rio de Janeiro. No Rio, o encontro foi realizado em outubro e teve duração de cinco dias.
Thaísa Rosa, 32 anos, faz parte do HUB de São Paulo e esteve pela primeira vez no Rio de Janeiro. Educadora social, ela destaca a oportunidade de conhecer jovens de outras partes do país que compartilham uma história de luta mas que encontram saídas diferentes enfrentar situações difíceis. “Está sendo muito rico ver como as periferias são parecidas, como que as ausências aqui são muito parecidas com o que a gente passa em São Paulo. então o que me traz de novo é ver como a resistência é feita aqui”, ressalta.
Entrevista com Thaís Rosa
Baiana e moradora do Distrito Federal, PreThaís também acredita que este tipo de intercâmbio colabora para o fortalecimento de quem, muitas vezes, se sente sozinha nas causas que defende. “Quando a gente se reconhece nas falas das irmãs a gente vê uma luz aí pela frente. Se vendo, se percebendo, se respeitando a gente vai construindo o espaço de uma maneira que fique confortável pra todas”, conta a jovem.
Entrevista com PreThaís
Além de todas as atividades propostas pelo intercâmbio, as jovens que vieram para o Rio de Janeiro tiveram a oportunidade de conhecer um movimento de afirmação racial inovador para o fortalecimento da luta contra o racismo no país e no mundo. Trata-se da Diaspora.black, uma plataforma de hospedagem criada por jovens negros, que visa garantir maior acolhida para pessoas negras viajantes, focando nos valores culturais e de pertencimento da população negra. Esta escolha foi um dos elementos que proporcionou a sensação de acolhimento das jovens durante o intercâmbio. Como uma proposta política, a hospedagem foi chamada de “Quilombo das Pretas”. O ambiente, além de acolhedor, possibilitou a convivência das jovens de São Paulo, Recife, Brasília e jovens do Rio de Janeiro, que também puderam se “aquilombar” neste espaço. A hospedagem coletiva, em consonância com a proposta da Diaspora.black, potencializou entre as jovens dimensões que a experiência de um intercâmbio pode gerar que é re-conhecer, re-conectar, trocar e aprender juntas, no encontro e compartilhamento.
Compartilhamento e fortalecimento são palavras-chave para entender os intercâmbios do HUB das Pretas. É o que diz Yane Mendes, 25 anos, de Recife. Yane, que trabalha com audiovisual nas periferias da capital pernambucana, afirma que a opressão sobre as mulheres negras aumenta quando essa identidade é defendida como forma de ser e de se expressar. “Isso é algo que acontece o tempo todo. Como eu não tenho formação acadêmica e como estou entrando agora nesse espaço do cinema, as pessoas não negam que estão incomodadas pelo simples fato de eu estar ali, como mulher, negra e de periferia.”, afirma Yane que completa: “Vindo aqui, conhecendo as outras pretas dos outros Hubs, compartilhando não só as dores, mas também as vitórias, é voltar para continuar a luta. porque nós estaremos sim, querendo ou não, ocupando esses espaços”.
Entrevista com Yane Mendes
O projeto Jovens Mulheres Negras Fortalecidas na Luta Contra o Racismo e Sexismo – HUB das Pretas é realizado em uma parceria entre Ibase, Fase, Criola, Ação Educativa, Instituto Pólis e Oxfam Brasil.