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Cartilha sobre portos no Tapajós é lançada no Pará

Irleusa,representante do povo indígena Apiacás, durante seminário realizado em Itaituba/PA

As cidades de Rurópolis e Itaituba, no Pará, receberam, nos dias 19 e 20 de setembro, dois seminários de lançamento da cartilha “Portos no Tapajós: O Arco do Desenvolvimento e da Justiça Social?”, desenvolvida pelo Ibase. Movimentos sociais, estudantes, representantes de quilombolas, ribeirinhos, indígenas e demais moradores da região participaram do evento que debateu os impactos socioambientais da implantação deste tipo de empreendimento ao longo do rio Tapajós.
Para Elmara Guimarães, agente da Comissão Pastoral da Terra – CPT, em Itaituba, a cartilha será um instrumento de luta dos moradores contra o desenvolvimento que é imposto à região. Segundo ela, a falta de diálogo com a população local faz com que os portos e toda a infraestrutura que vem sendo construída para o escoamento de soja não respeitem a vontade dos moradores. “Uma das maiores preocupações das pessoas daqui são os danos socioambientais que esses empreendimentos estão trazendo. Ninguém pensou na nossa forma de vida e como a gente quer o nosso desenvolvimento. Por isso, a cartilha será um instrumento de luta e resistência para nós”, declarou.
Pedro Martins, da organização Terra de Direitos, durante o evento em Rurópolis/PA

Ao todo, 26 portos estão previstos para serem construídos ao longo do Tapajós. A mudança da vida na região já é visível com a destruição de sítios arqueológicos, o aumento do desmatamento, o assoreamento de igarapés e o crescimento da violência devido ao aumento populacional. Pedro Martins, advogado da organização Terra de Direitos em Santarém, instituição parceria na realização dos seminários, aponta que muitos moradores, inicialmente, acreditam que os portos poderão melhorar a vida nos territórios devido ao discurso sobre a compensação ambiental trazido com os empreendimentos. No entanto, Martins destaca que esta compensação não costuma acontecer. “A primeira experiência que a gente teve foi a partir do porto da empresa Cargill em Miritituba. Lá, identificamos que, na verdade, esse benefício (da compensação ambiental) não chega para a comunidade. Isso é o mesmo que aconteceu em relação às comunidades de Itaituba ou Santarém, por exemplo. Santarém, aliás, perdeu uma praia e todo um sistema de economia que era informal mas que garantia a subsistência de várias famílias que vendiam mercadorias na região. Os pescadores que estavam sempre por ali hoje têm que se deslocar para locais muito mais distantes. Ou seja, é um tipo de desenvolvimento que não compensa”, destaca o advogado.
Lydia Amaral, quilombola, ressaltou que os empreendimentos que estão sendo feitos para atender ao agronegócio têm acabado com a forma de vida dos povos tradicionais locais. “Nós e os povos indígenas, nós sempre preservamos a natureza: os lagos, os rios, a floresta, os animais. E onde chega essa falsa ideia de desenvolvimento acaba também o nosso direito de existir e de criar os nossos filhos como queremos”, lamenta Lydia.
 

LEIA: ENTREVISTA COM JONDISON RODRIGUES, AUTOR DA CARTILHA “PORTOS NO TAPAJÓS: ARCO DO DESENVOLVIMENTO E DA JUSTIÇA SOCIAL?”

 
Fred Vieira, do Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB, ressalta que a cartilha é mais uma ferramenta para os povos da região do Tapajós, pois ajuda a levar dados concretos sobre os impactos dos portos sobre a vida da população. “A cartilha faz parte de um processo criação coletiva entre o Ibase, o MAB, e outros movimentos parceiros que conhecem a história da região. Esperamos que esta seja só uma primeira edição e que possamos continuar nessa luta juntos”, declarou.
A publicação “Portos no Tapajós: O Arco do Desenvolvimento e da Justiça Social?” é uma realização do Ibase com apoio da Mott Foundation. Para Nahyda Franca, coordenadora atual do projeto, o lançamento da cartilha nas cidades de Itaituba e Rurópolis, realizado com apoio da Fundação Ford, é um evento importante pois ajuda a mostrar e a questionar a realidade vivida na região com os impactos da construção dos portos. “Junto com os portos, vêm as carretas que levam soja para os terminais e trazem poeira (muita poeira) para a população. É toda uma turbulência no local, uma perturbação dos modos de vida que não são falados ou pensados nesses projetos. Além das violações de direitos sociais de toda sorte, assistimos a destruição ambiental que está ocorrendo na Amazônia de forma acelerada para a construção de toda uma infraestrutura que beneficia o agronegócio e desrespeita a população tradicional local. Esperamos que essa cartilha, além de chamar atenção para esta realidade, sirva também como ferramenta de empoderamento das pessoas para lutarem contra esse modelo de desenvolvimento”, finaliza.

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