14/11/2013
Ontem o Ibase, o Greenpeace, o ISA, a Fase e o CTI promoveram um debate sobre os impactos socioambientais da exploração do gás de xisto no Brasil. O evento acontece em São Paulo e foi transmitido ao vivo. Apesar de estar ‘na moda’ nos Estados Unidos, o gás de xisto e a tecnologia para sua exploração ainda são desconhecidos no Brasil.
 

 
O processo licitatório para a exploração de áreas de gás natural convencionais e não convencionais deve acontece no final deste mês. A Agência Nacional do Petróleo (ANP) vai colocar à disposição 240 blocos exploratórios terrestres distribuídos em 12 estados do país. O xisto, gás não convencional utilizado por usinas hidrelétricas e indústrias é uma fonte de energia que, apesar de conhecida, permaneceu inexplorada durante muitos anos, por falta de tecnologia capaz de tornar viável a sua extração.
A proposta do seminário foi debater as questões ambientais envolvidas nesse tipo de exploração mineral e discutir sua viabilidade, além de colocar em discussão a necessidade dessa fonte de energia para o setor energético brasileiro, com enfoque nas bacias do Acre, Mato Grosso e no aquífero Guarani. O pesquisador do Ibase Carlos Bittencourt alerta  que é preciso prorrogar o leilão para que se possa fazer os estudos necessários antes de autorizar a exploração.
Entre os participantes convidados, Jailson de Andrade (SBPC), Ricardo Baitelo (Greenpeace), Bianca Dieile (FAPP-BG), Conrado Octavio (CTI) e Angel Matsés (Comunidad Nativa Matsés) e a moderação foi de Padre Nelito (CNBB). O seminário teve o apoio da Ajuda da Igreja Norueguesa.
Jailson de Andrade foi o primeiro a falar. Diante da perspectiva de que um dos grandes desafios deste século é o setor energético, ele chamou a atenção para o fato de que apesar do xisto ser enxergado por muitos como uma solução, deve-se considerar todos os riscos envolvidos nesta atividade. “Para se explorar este tipo de gás, demanda-se uma enorme quantidade de água que após ser utilizada para fracionar as rochas fica contaminada com substâncias químicas como arsênio e bário. As perguntas que devem ser respondidas são: de onde virá a água? E para onde ela irá?”, questionou Andrade.
Além de abordar a questão ambiental, o debate ainda tratou da ausência de transparência na legislação brasileira que pode colocar em risco o fornecimento de água de muitos municípios e também da questão social.
Conrado Octavio, do Centro de Trabalho Indigenista, e Angel Matses, da Comunidad Nativa Matses no Peru, retomaram a história de como foi a exploração de petróleo nas décadas de 70 e 80 em regiões próximas às Terras Indígenas e as Reservas Extrativistas. “Houve muito conflito com os povos indígenas isolados, às vezes eram deixadas clareiras abertas no meio do roçado dos índios. Após tanto conflito, os trabalhos foram suspensos e agora querem retomar a agenda de óleo e gás na região, isso sem consultar os povos indígenas”, afirmou Conrado.
Muitos dos 240 blocos com potencial exploratório estão próximos à comunidades indígenas isoladas e em sobreposição com importantes aquíferos, como o do Paraná e o de Parecis. Ricardo Baitelo, do Greenpeace Brasil, disse que “precisamos de gás para nossa transição energética e para conseguir abandonar os combustíveis fósseis. Mas deve-se atentar que o xisto não é um gás convencional e que precisamos de algo que ainda não existe: critérios rígidos para a exploração.”

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