Um dos destaques da Semana Mundial da Alimentação foi a campanha Por Trás das Marcas , da Oxfam – uma confederação internacional de 17 organizações que atuam em rede em 94 países – visando construir um futuro livre da injustiça e da pobreza. Um dos objetivos é buscar construir um mundo em que todas as pessoas tenham comida suficiente para se alimentar bem. Hoje, cerca de 1 a cada 8 pessoas no planeta passa fome. Infelizmente, a maior parte dessas pessoas é composta por produtores ou trabalhadores rurais que trabalham para produzir alimentos e suprir a demanda mundial por comida – mas não tem nem mesmo como alimentar a suas famílias. No entanto, produzimos alimentos em quantidade suficiente para todo mundo. Isso é um absurdo, mas nossa geração pode acabar com essa enorme injustiça.
As maiores indústrias de alimentos e bebidas do mundo têm enorme influência sobre o sistema de produção e distribuição de alimentos. Por isso, as políticas dessas empresas determinam como os alimentos são produzidos, a maneira como os recursos são usados e em que medida os benefícios chegam aos milhões de marginalizados na base de suas cadeias de fornecimento.
A campanha da Oxfam, que é parceira do Ibase, quer avaliar as políticas da cadeia de fornecimento de 10 entre as maiores empresas de alimentos e bebidas do mundo, em comparação com outras empresas do ramo. São sete áreas cruciais a serem medidas para a produção agrícola sustentável: igualdade de gênero (boas condições de trabalho para mulheres), qualidade de vida e segurança alimentar dos pequenos agricultores, condições de trabalho digno no campo, acesso de comunidades rurais à água e à terra, impacto em mudanças climáticas e transparência.
– O objetivo da Oxfam é fazer com que as marcas conheçam e mostrem o que se passa em suas cadeias de fornecimento, comprometendo-se a alterar as práticas que violem direitos humanos, prejudiquem o meio ambiente, fracassem na resolução de desigualdades de gênero ou contribuam para a mudança climática. Receamos que os esforços da responsabilidade social corporativa não tenham sido eficazes para mudar efetivamente as práticas das empresas. Nossa perspectiva sobre isso é crítica, porque as empresas mudaram sua linguagem de RP e lançaram alguns projetos comunitários, mas continuam com as mesmas práticas nocivas que prejudicam pessoas. É por essa razão que estamos engajados na campanha – para conclamar as marcas globais a melhorar suas políticas e práticas nestas sete áreas cruciais. A campanha é global e existe em 40 países – explica Veronica Barbosa, coordenadora da Oxfam.
Segundo ela, há uma expectativa de resultado: localmente, a Oxfam quer que as empresas no Brasil se comprometam com a tolerância zero para a apropriação de terras em suas cadeias de suprimento:
– Especificamente, acreditamos que todas as empresas – agrícolas, comerciantes de commodities agrícolas de alimentos e bebidas – no Brasil, devem ser transparentes sobre as questões fundiárias em suas operações, conhecer e mostrar suas fontes de suprimentos e informar se elas ou seus fornecedores respeitam os direitos à terra ou estão envolvidos em conflitos de terras ou processos litigiosos. E, ainda, não comprar cana-de-açúcar cultivada em terras indígenas ou em terras envolvidas em conflitos ou processos de litígio.