Conceição Evaristo durante o Festival da Mulher Afro Latino Americana e Caribenha 2013 (Foto: Cultura de Red / C.C)

Athayde Motta
Diretor-executivo do Ibase

Na mais recente eleição para escolher um novo membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), o cineasta Cacá Diegues foi escolhido com maioria dos votos. Em segundo lugar ficou o livreiro Pedro Corrêa do Lago. A escritora negra Conceição Evaristo recebeu um voto. A ABL perdeu a oportunidade de eleger a primeira mulher negra para fazer parte de sua lista de “imortais”. O resultado fica ainda mais vergonhoso porque Conceição é uma escritora reconhecidamente sublime, vencedora do Prêmio Jabuti, o mais prestigiado da literatura brasileira. Não há parâmetro possível de comparação entre ela e os outros concorrentes, a despeito de suas reconhecidas famas em suas respectivas áreas. Conceição é simplesmente uma escritora. Os outros apenas escrevem.

Como se não bastasse, uma matéria do “The Intercept”  descreve em pavorosos detalhes o processo por meio do qual um(a) escritor(a) se candidata à ABL. Compadrio descarado, ações de “bons modos” que evocam um ambiente de falsidade e dissimulação, jantares e eventos exclusivos e excludentes que custam uma fortuna, atos de ostentação explicita cujo único objetivo é fazer lobby por votos. Nenhuma palavra sobre livros ou literatura. Dignamente, Conceição teria se recusado a participar desse ritual absurdo do qual a literatura está notoriamente ausente.
A candidatura de Conceição teria sido um ato de protesto apoiado por um amplo leque de pessoas e organizações. Eu entendo o motivo, mas considero uma ação política mais efetiva recusar-se a fazer parte de instituições que historicamente nos excluem.  A ABL, abjeta em suas cerimônias e ritos em descompasso com a inteligência vibrante que existe na vida real, evita qualquer possibilidade de abertura ao novo e cultiva uma cultura hipócrita que representa o pior desse país: distribui cadeiras para escritores menores e para pessoas cujo destaque, por muitas vezes, não têm qualquer relevância para a literatura brasileira. “Mas que postura rígida”, diriam coleguinhas defensores de um clubismo classista e racista do tipo mais rasteiro. Então tá. Enquanto isso, no mundo que negros e brancos pobres habitam, uma literatura periférica explode de uma forma que entusiasma escritores e leitores. Aqueles que, como eu, já tiveram a oportunidade de ir a um Sarau da Cooperifa , em São Paulo, ou em um evento da Flup, no Rio, sabem o que é a ABL e têm perfeita clareza de sua desimportância. Fazem literatura de excelente qualidade e a vivem por completo, em vez de manuseá-la como ferramenta de alpinismo social.
A dívida que instituições como a ABL têm com escritoras(es) e intelectuais negras(os) é incomensurável, mas não deveria mais ser cobrada. É hora de pagar com outra moeda. Espero sinceramente que a Associação Brasileira de Pesquisadoras e Pesquisadores Negros (ABPN) tome para si a tarefa política de reconhecer e divulgar amplamente o patrimônio intelectual criado por mulheres e homens negros deste país. Sua ação política nesse sentido demonstraria nossa independência de ser, existir e pensar. Seria um protesto permanente contra o racismo que não nos deixa em paz.

Tradução »

jepe500

slot resmi

slot

slot dana

slot zeus

slot

rejekibet

88id

jkt8

slot pg

jayaslot

slot88

oppo500

toto slot

slot777

slot maxwin

jayaslot

slot maxwin

slot mahjong

slot

slot

INK789

slot zeus