Apesar das mobilizações nacionais pedindo que o Pré-Sal fosse utilizado somente em nome do interesse nacional, aconteceu no último dia 21, em apenas três minutos, a licitação do campo de Libra, localizado na Bacia de Santos — a maior reserva de petróleo já encontrada no Brasil, contendo o equivalente a dois terços das atuais reservas brasileiras. Com uma única proposta, o leilão entregou a maior reserva de petróleo do Brasil a um consórcio formado pelas empresas Shell (anglo-holandesa), Total (francesa) e CNPC e CNOOC (chinesas). O aparelho repressor montando para o circo contou com mais de 1.500 policiais. Houve bombas de efeito moral e balas de borracha. As forças armadas impuseram barreiras com suas tropas e grades que mantiveram os manifestantes 500 metros de distância do hotel onde tudo ocorria. Houve até a tentativa de impedir que um carro de som fosse ligado, com o objetivo de explicar para a população os motivos que levam à contestação da privatização do pré-sal. Outro acinte à democracia deste país.
O leilão é a primeira privatização na área do Pré-Sal; vai conceder áreas para exploração de petróleo e gás natural sob o regime de partilha de produção. A expectativa é que a produção seja de 1 milhão de barris por dia da área de Libra. Sessenta e três entidades enviaram carta à presidente Dilma Rousseff pedindo a imediata suspensão do leilão, entre elas o Ibase, mas o evento não foi suspenso.
– Era preciso chamar a atenção para a ausência de um debate mais profundo. Pensar no impacto sócio-ambiental. Ninguém mais fala sobre o risco de acidente, por exemplo”, diz Carlos Bittencourt, pesquisador do Ibase.
Um dos defensores da suspensão do leilão, o ex-diretor da Petrobras, diretor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), mestre em Planejamento Energético pela UFRJ e doutor em Engenharia Nuclear pelo Massachusetts Institute of Technology, Ildo Sauer lamenta esta situção.
– O petróleo é do brasileiro e a Petrobras também. O Brasil tem que saber criar excedente (a renda petroleira) para investir no próprio país, que tem carências reconhecidas, como na educação e na saúde públicas e uma profunda necessidade de tocar a reforma urbana, com moradia e mobilidade, a reforma agrária, e melhorar setores como ciência e tecnologia e infraestrutura produtiva.
Leia a reportagem completa com Ildo Sauer no Canal Ibase.
Foto: Samuel Tosta /Agência Petroleira de Notícias