A palavra é “fracking“: nome em inglês para “fraturamento hidráulico”, técnica de extração de petróleo e gás natural em reservatórios considerados não convencionais. E por que debater o uso desta técnica no Brasil? As respostas estão no livro (disponível para download) “Fracking e a exploração de recursos não convencionais no Brasil: riscos e ameaças“, lançado pelo Ibase em 26 de setembro. A publicação, que conta com oito artigos de especialistas de diversas áreas relacionadas com o assunto, traz à tona um debate que é urgente em nosso país e que reflete que tipo de desenvolvimento queremos e qual o custo dele para as pessoas e o meio ambiente.
Para retirar os combustíveis fósseis das camadas mais internas da terra através do fracking, são utilizados cerca de 20 mil m³ de água misturada com produtos químicos, o que gera o risco de contaminação. Nos países onde o faturamento hidráulico é realizado – China, Canadá, Estados Unidos e Argentina, há relatos de contaminação de lençóis freáticos, vazamento de metano para poços artesianos e, em áreas dos EUA onde a tecnologia é usada para extrair petróleo, de poluição do ar. No Brasil, há um risco de contaminação inerente à própria geologia: as principais jazidas de gás estão numa camada de rochas na bacia do Paraná que está debaixo das rochas do aquífero Guarani, o maior do mundo.
No artigo “A ameaça do fracking no Brasil: possíveis cenários de impactos socioambientais”, que compõe a publicação do Ibase, Karine Narahara, cita os problemas do uso desta técnica na cidade de Añelo, norte da Argentina, conhecida como “capital latino-americana do fracking“. Além dos danos ao meio ambiente, Karine destaca os problemas sociais causados pelo uso do fracking: “aumento acelerado da população residente e da população flutuante, aumento dos índices de criminalidade, aumento da demanda sobre serviços locais, aumento da ocorrência de acidentes de trânsito, aumento generalizado de preços, aumento de valores de compra e aluguel de imóveis e aumento do número de sem teto”, relata.
Para o professor Alexandre Costa, da Universidade Estadual do Ceará, autor de um dos artigos do livro, falar sobre o fracking e o uso de combustíveis fósseis como fonte de energia é urgente. O aquecimento do planeta, ele diz, é algo a ser levado a sério por todos e o uso do petróleo e do gás natural, assim como sua exploração, pioram ainda mais o quadro já crítico que vivemos. “Todos esses furacões que temos visto são sintomas que demonstram bem o quanto o planeta não suporta mais esse tipo de desenvolvimento. E é sabido que, se o aquecimento chegar a 3°C, não há sociedade possível ou governável”, ressalta o professor.
Julio Holanda, pesquisador do Ibase e organizador do livro, destaca que o debate sobre o uso do fracking no Brasil é importante para que a sociedade saiba dos riscos da utilização deste tipo de técnica e possa se antecipar no diálogo sobre o seu uso. “Essa publicação foi pensada em 2015, pouco depois de um leilão da ANP (Agência Nacional do Petróleo) que incluiu no edital a exploração de recursos não convencionais através do fracking. Nos leilões anteriores a esse, isso não aparecia. Após esse leilão houve uma regulamentação da exploração dos recursos não tradicionais, mas que não levou em conta o que os movimentos sociais pediam e que autoriza a exploração nos blocos já ofertados e leiloados pela ANP. Dois anos depois, a Agência leiloa quase 300 blocos, de norte a sul do país, o que amplia ainda mais a exploração de petróleo e gás e amplia também a possibilidade do uso do fracking no país”, ressalta Julio.
O livro “Fracking e a exploração de recursos não convencionais no Brasil: riscos e ameaças” é parte do projeto “Mineração em Debate: consolidando um campo pós-extrativista no Brasil” e foi realizado com apoio da Fundação Ford. Para baixar, clique aqui.
Comentário 1
Não são permitidos comentários.
Cresce a resistência ao fracking no Brasil – FUNVERDE
4 de outubro de 2017[…] de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) na terça-feira passada (26), que pode ser acessada no site da organização, […]