O mês de agosto está sendo marcado no Rio de Janeiro pelo aumento da truculência policial nas áreas de favela. Somente no Jacarezinho, na zona norte da cidade, 7 pessoas foram mortas em 9 dias, durante ações da polícia. Nesta mesma favela, 15 escolas serão fechadas por tempo indeterminado devido ao risco gerado pelos tiroteios. O cancelamento das aulas por causa da violência tem se tornado algo comum: somente no dia 21 deste mês, 27 mil alunos tiveram suas atividades escolares canceladas durante operações policiais, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Educação. Para agravar a situação, o Jornal Extra publicou, no último 16 de agosto, uma capa em que declara que o Rio de Janeiro está em guerra, além de criar uma editoria (chamada “editoria de guerra”) para tratar do assunto diariamente. Um posicionamento bastante perigoso quando a vida de tantas pessoas está em jogo.
Por isso, o Ibase se une à sociedade civil e assina o manifesto que pede um basta nas ações violentas do Estado e no discurso que difunde a “guerra no Rio”. Pede também que as favelas sejam vistas como parte integrante da cidade e que seus moradores sejam respeitados como cidadãos que são.
Abaixo, o manifesto completo:
Não podemos mais silenciar diante do genocídio cotidiano dos moradores de favelas pelos aparatos de segurança pública do Governo do Estado. Inúmeras pessoas têm sido mortas com o assustador e descomunal aumento de vidas perdidas desde 2016. São principalmente jovens, negros, trabalhadores, brutalmente assassinados.
Um golpe no futuro de milhares de jovens, de suas famílias e de toda a sociedade.
Como se não bastasse esta violência objetiva, os principais jornais cariocas estão veiculando em seus editoriais o termo guerra para significar esta situação.
Por outro lado, inúmeras denúncias das arbitrariedades por parte dos policiais circulam nas redes sociais. São fotografias, vídeos e depoimentos que dão conta de mostrar a abordagem agressiva e violenta da polícia – pé na porta das casas das pessoas, entrar sem pedir permissão ou mandado de busca e apreensão, até a violência física e mesmo roubo de pertences dos moradores, prisão e tortura. Esses são alguns dos abusos de poder absolutamente intoleráveis, que continuam e mesmo se agravam, mesmo em áreas de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP).
São narrativas que se contrapõem à ideia de que nas favelas no Rio de Janeiro ocorre “uma guerra particular” entre traficantes e policiais. Na verdade, elas revelam que o que está acontecendo é um verdadeiro genocídio das populações negras e pobres.
Precisamos dizer não ao sensacionalismo midiático movido pelos interesses dos grandes empresários dos meios de comunicação, e dar visibilidade, de um lado à verdadeira motivação do genocídio nas favelas e, de outro, às lutas dos moradores de favelas, amplificando suas vozes, para juntos enfrentarmos a violência do braço armado do Estado.
É hora de dar um basta.
VIDAS NAS FAVELAS IMPORTAM!