Por Marcel Gomes
texto originalmente publicado na Carta Maior
O Brasil lidera pela terceira vez consecutiva o ranking mundial de combate à fome. A lista, divulgada nesta segunda-feira (10), faz parte de um estudo anual sobre o tema da organização não-governamental Actionaid, de origem britânica e com atuação no Brasil. Foram analisadas a situação de 28 países em desenvolvimento, entre os quais Malawi (2º lugar), Ruanda (3º), Haiti (9º), África do Sul (10º), China (11º), Índia (18º), Congo (27º) e Paquistão (28º).
Para montar o ranking, a Actionaid investiga a conjuntura de cada nação em relação a temas como sustentabilidade da agricultura, proteção social, igualdade de gênero, políticas públicas de combate à fome e efeito das mudanças climáticas. O Brasil recebeu alta pontuação em todos os quesitos por reservar US$ 10 bilhões à agricultura familiar em 2011, ter cadastrado 12,4 milhões de famílias no programa Bolsa Família e ter incluído o direito à alimentação em sua Constituição, em fevereiro de 2010.
“O Brasil continua provando que a fome poder ser vencida. A estratégia do Fome Zero, que envolveu 53 iniciativas em 11 ministérios, alcançou muitos feitos desde seu início, em 2003, incluindo a redução da desnutrição infantil em 73%, entre 2002 e 2008, e a queda da mortalidade infantil em 45%”, diz o texto do estudo “Quem está mais preparado para as crises climática e alimentar?”.
Mas não há apenas elogios. O país é criticado por não conseguir alterar sua estrutura agrária altamente concentrada. Segundo dados colhidos pela Actionaid, 3,5% dos proprietários de terra possuem 56% das terras agriculturáveis, enquanto os 40% mais pobres ocupam apenas 1%. Uma concentração em proporções semelhantes foi verifica no acesso ao crédito agrícola: enquanto os poucos grandes proprietários obtêm 43% dos recursos, agricultores que possuem menos de 100 hectares – 88% dos produtores rurais brasileiros – conseguem apenas 30% do total.
Fome no mundo
Se no Brasil a tragédia da fome tem sido vencida, o mesmo não se pode dizer dos dez países do ranking onde a vulnerabilidade é maior. São eles, em ordem crescente de vulnerabilidade, Moçambique, Nigéria, Guatemala, Vietnã, Gâmbia, Quênia, Camboja, Senegal, Congo e Paquistão. Juntos, eles reúnem uma populaçao de 1,5 bilhão de pessoas cada vez mais afetadas pelas mudanças climáticas, a alta dos preços das commodities e a degradação ambiental.
Para a chefe-executiva da Actionaid Joanna Kerr, a situação deve piorar diante da perspectiva de que a era dos preços baixos dos alimentos acabou e do aumento da população nesses países. “Com 78 milhões de crianças a mais por ano até 2050, não temos um minuto a perder”, disse ela. “A crise de fome na África Oriental neste ano foi um exemplo angustiante de como a superexploração dos ecossistemas, um clima instável e a falta de controle sobre o preço dos alimentos têm conseqüências catastróficas para as pessoas pobres”.