Na próxima quarta-feira, (05/08), o procurador da República, Sérgio Gardenghi Suiama, começa a ouvir testemunhas sobre a paralisação das atividades da Agência Nacional de Cinema (Ancine), no Rio. Denúncias feitas pelos servidores do órgão fizeram com que o Ministério Público Federal (MPF) abrisse inquérito para investigar possíveis desmandos por parte do de Alex Braga Muniz, diretor interino da instituição desde 2018, indicado pelo Governo Bolsonaro. As denúncias dão conta também de que os editais já aprovados não terão os recursos repassados.
O primeiro a ser ouvido será Mastroiane Dias, ex-coordenador da Gestão de Negócios, que teria recebido um e-mail da Superintendência de Desenvolvimento Econômico determinando que as contratações de projetos audiovisuais fossem suspensas. Ao questionar a ordem, Mastroiane, que é servidor público concursado, foi exonerado do cargo e transferido para o setor de contabilidade do órgão.
Além da suspensão de editais, mais de 100 quadros com cartazes de filmes brasileiros foram retirados dos corredores da sede da Ancine. Também causou perplexidade o cancelamento de uma sessão do filme A Vida Invisível, de Karin Ainouz, que seria exibido para funcionários do órgão em dezembro de 2019. Na época, Karin chegou a declarar: “Foi censura, sim. Não podem cancelar a projeção de um filme num órgão público sem explicar claramente o motivo”. O FSA (Fundo Setorial do Audiovisual), que teve a promessa de investimento R$ 440 milhões para a retomada do cinema brasileiro também sofre com a inércia da Ancine.
As possíveis irregularidades que estão sendo apuradas pelo MPF tiveram origem na denúncia do historiador Rafael dos Santos, que também é servidor da Ancine e integrante do Conselho Curador do Ibase. Ainda em 2018, Rafael encaminhou para a Controladoria Gera da União material que comprovava a existência de um dossiê sobre funcionários da Ancine que teriam perfil político de oposição ao Governo Bolsonaro. Intitulado “Abrindo a Caixa Preta”’, o dossiê continha fotos e publicações de redes sociais feitas por esses servidores considerados inimigos da atual gestão da Ancine. “Basta olhar esse dossiê para identificar nele toda a estrutura de uma investigação militar. Sabemos agora que esse tipo de expediente não é novidade no atual governo” – explica Rafael dos Santos.