O golpe militar de 1964 completa 50 anos esta semana. Em maio do ano passado, a historiadora e ex-diretora do Ibase Dulce Pandolfi e a cineasta Lucia Murat foram ouvidas pela Comissão da Verdade do Rio. As duas foram convidadas a depor no primeiro evento da série Testemunho da Verdade, na Assembleia Legislativa. Em seu depoimento, Dulce lembrou a trajetória de luta como militante no DCE de Ciências Sociais, em Pernambuco, e depois na ALN (Aliança Nacional Libertadora), já no Rio de Janeiro, no início dos anos 1970.
Foi nesta época que, aos 21 anos, foi presa e levada para o quartel da Barão de Mesquita, na Tijuca, por agentes do Doi-Codi. Lá permaneceu por seis meses, dos 16 que ficou presa, e sofreu todo o tipo de tortura:
“Durante os mais de três meses que fiquei no Doi-Codi, fui submetida, em diversos momentos, a diversos tipos de tortura. Umas mais simples, como socos e pontapés, e outras mais grotescas, como ter um jacaré andando sobre o meu corpo nu. Recebi muito choque elétrico e fiquei muito tempo pendurada no chamado ‘pau de arara’, os pés e os pulsos amarrados em uma barra de ferro e a barra de ferro colocada no alto, numa espécie de cavalete”, relatou a historiadora à Comissão, presidida pelo advogado Wadih Damous, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil.

 
Segundo Dulce, logo que chegou a prisão ouviu dos militares a seguinte frase: “Aqui não existe um Deus, nem pátria e nem família”. De lá foi levada para o presídio Talavera Bruce, no então Complexo Frei Caneca, no Rio, e ao fim de alguns meses, de volta para um presídio em Pernambuco.
Lucia ficou presa entre os anos de 1971 e 1974. Neste período relatou ter sofrido também todos os tipos de tortura. Ela contou à comissão que aceitou dar o depoimento por acreditar ser a única forma de fortalecer a democracia. “Não faço isso por desejo de vingança, nem por masoquismo. Acho fundamental para a história do país, acho fundamental para a minha filha e a minha neta que esses fatos sejam revelados e apurados. Ainda tem muita coisa que a gente não sabe exatamente o que aconteceu, tem desaparecidos que foram torturados e mortos em lugares que a gente não conhece, e isso tem que ser revelado”, destacou a cineasta. Ela contou que foi torturada pelos métodos utilizados na época: espancamentos generalizados, pau de arara, choques elétricos na vagina, na língua e pelo corpo; utilização de baratas vivas pelo corpo. Até hoje a cineasta carrega no corpo sequelas das torturas que sofreu.
Entre os nomes de torturadores citados por Dulce e Lucia estão o do major da Polícia Militar Riscala Corbage, conhecido como Doutor Nagib, do major João Câmara Gomes Carneiro, conhecido como Magafa, do médico Amílcar Lobo, do Cabo Gil, do agente da Polícia Federal Luiz Timóteo de Lima, conhecido como Padre, do coronel da Reserva Paulo Malhães, do major Cinelli, do major Demiurgo e do tenente Armando Avolio Filho, conhecido como Apolo.
Veja no Canal Ibase o texto que Dulce Pandolfi apresentou no seminário “O passado presente”, da Biblioteca Nacional, na semana passada.
 
 
 

Comentários 3

  1. Fátima Portela
    28 de maio de 2013

    Justiça !!!

  2. Anônimo
    29 de maio de 2013

    Re-calcar uma história é arisioná-la no presente, a revelação conquista a liberdade de tomae seu valor de experência

  3. Odon Porto de Almeida
    10 de junho de 2013

    Esses monstros julgam que estão anistiados. Imitadores dos criminosos julgados em Nuremberg no pós-II Guerra Mundial devem ser levados aos tribunais para julgamento, como na Argentina, no Chile etc. Pelo menos seus nomes estão saindo nos jornais para conhecimento de nosso povo. Mas isto ainda é pouco. Julgamento justo não é revanche.

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