Emoção, orgulho e alegria tomaram conta do lançamento do livro “Olhares Negros”, no último 30 de julho, no Rio de Janeiro. Oito autoras reunidas – Dulce Maria Pereira, Helena Theodoro, Iara Brandão, Kelly Tiburcio, Mariana Maiara, Roberta Eugênio, Vanda Machado e Wania Sant’anna – fizeram questão de enfatizar a publicação como uma conquista coletiva de mulheres de diferentes gerações, que pensam a sociedade de forma diversa.
“Somos como girassóis, uma recarrega a outra, dá força e luz para iluminar o debate. Assim escrevemos o livro e nos inspiramos para construir uma sociedade mais justa”, explicou Vanda Machado, uma das escritoras.
Wania Sant´anna, presidenta do Conselho de Governança do Ibase, foi reconhecida por formar este grupo de escritoras que se reúne desde 2020 e escreve artigos para a coluna Olhares Negros, dentro do portal Congresso em Foco.
No lançamento, Wania observou que o grande objetivo do livro é mostrar que mulheres negras pensam o país, a sociedade e suas vidas. Ela torce para que o livro sirva de inspiração para outras mulheres negras, eternize o pensamento e ajude a formar uma opinião ética, comprometida no combate ao racismo.
O livro foi escrito de forma coletiva em reuniões virtuais semanais e sábado acabou sendo o primeiro encontro presencial de todas as escritoras. Segundo Helena Theodoro, a escolha do lugar não poderia ser melhor. “O Dida Bar é tão simbólico, que faz parte do nosso livro quando falamos da importância da comida, de dar vida ao que está morto, a arte de cozinhar. Que essa transformação nos mantenha vivos, alegres e felizes”.
Uma das histórias mais emocionantes da noite foi contada pela escritora Kelly Tiburcio. Ela relatou um caso de descriminação que sofreu na escola. “A professora sempre dizia para eu sentar atrás porque pessoas como eu não poderiam sentar na frente. Depois de dias repetindo, eu aprendi qual era o meu lugar. Várias outras pessoas me descriminaram durante a vida, mas eu tive uma filha. Tentaram fazer o mesmo com ela, a ponto de dizerem que o sonho de uma menina da favela era ser mulher de bandido para morar na melhor casa da comunidade. Eu queria tirar ela da escola, mas minha filha quis ficar e disse que ia lutar por uma educação melhor. Eu conto essa história emocionada, porque escrevo ao lado de mulheres que sempre lutaram por conquistas para as mulheres negras, para que o negro tivesse direito de entrar na universidade e para que meninas negras tivessem uma postura diferente da minha. Sou muito grata por tudo que aprendi e me transformei”, relata.
O livro reúne contos diversos e é uma oportunidade de refletir sobre questões estratégicas brasileiras e mundiais. “O que fazemos é uma entrega que queremos que seja multiplicada através de produção de pensamento, demolição do racismo, desarticulação de todo o processo patriarcal para melhorar a distribuição da riqueza coletiva”, explicou Dulce Pereira.
Mariana Maiara, Iara Brandão e Roberta Eugênio são as mais novas do grupo. Todas agradeceram fazer parte do projeto ousado de escrever e colocar as ideias no mundo.
O livro teve o apoio do Ibase, do escritório Daniel Advogados, do Fundo Social Elas e o Instituto Alziras e está liberado para acesso de todos através do link: https://lp.daniel-ip.com/livro-olhares-negros.
Outros artigos continuam sendo escritos e tem mais coisa boa vindo por ai!
Foto de Samuel Tosta/Ibase.