23/3/2014
O Ibase repudia a ação policial que levou à morte de Claudia Silva Ferreira, de 38 anos, baleada no Morro da Congonha, em Madureira. Tendo em vista a longa trajetória de movimentos sociais em prol da cidadania e dos direitos humanos, enfatizamos que essa tragédia não é um caso isolado. A auxiliar de serviços que criava quatro filhos e mais quatro sobrinhos estava num contexto comum aos moradores dos territórios de populações de baixa renda no Rio de Janeiro. Assim, um dos pontos de fundamental importância – e que não pode cair no esquecimento – é a forma como a polícia entra nas favelas ou em outros locais de moradia precária. Na Comissão de Direitos Humanos da Alerj, há vários relatos de moradores sobre violações de direitos humanos, seja em locais com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) ou fora deles.
Muitas mortes ocorridas durante operações policiais são classificadas como “autos de resistência”, que funcionam como argumento da própria força policial em defesa das ações de repressão. Há que se ressaltar que os policiais envolvidos na recente tragédia de Madureira têm 69 mortes em seus currículos, 62 sob alegação de auto de resistência. Isso configura uma política de segurança do confronto e do extermínio, na qual a relação com esses territórios é tratada como uma guerra. A situação, no entanto, é ainda mais grave, já que sequer existem as garantias inerentes aos confrontos bélicos, conforme as convenções internacionais. A sociedade também não deve separar as ações policiais do Estado. É bom que fique claro, portanto, que é o Estado que está agindo dessa forma nesses territórios. E essas práticas, como a que resultou na morte de Cláudia, são recorrentes.
A diferença – e isso talvez seja nossa tragédia coletiva – é que a morte dela foi filmada em vídeo disseminado nas redes sociais e na mídia tradicional. Por isso gerou tanta comoção. Não podemos correr o risco de, mais uma vez, deixar que o caso seja tratado de forma restrita. É preciso debater a violência diária e quase invisível aos olhos da maior parte da sociedade. O Ibase, assim, quer que esse debate seja feito pela sociedade, consciente de que casos como o de Cláudia são constantes. Só nesses termos acreditamos que será possível cobrar mudanças na política de segurança pública que se pautem pelo respeito ao cidadão, independentemente de renda, local e etnia.
Foto divulgada pelo facebook de Think Olga