Discutir os impactos e as perspectivas da implantação de portos na região oeste do estado Pará. Esse é o objetivo de um seminário realizado na Ufopa – Universidade Federal do Oeste do Pará, nos dias 3 e 4 de agosto.
Para Gilson Rego, coordenador da Comissão Pastoral da Terra de Santarém, o debate sobre a construção dos portos na região é urgente e precisa levar em consideração a voz dos moradores e movimento sociais do local. “Nós já temos um porto em Santarém, que é o porto da Cargill (multinacional produtora de alimentos que usa o porto para escoamento de soja), que tem 15 anos de história, e o discurso na época da implantação dele foi o do progresso, do avanço. Hoje esse porto é usado pelos movimentos sociais e, até mesmo, pelas empresas que querem construir novos portos na região, como exemplo para mostrar que não é isso o que acontece”, destaca Gilson.
Um dos projetos que devem impactar na vida dos moradores da região de Santarém é o porto do Lago de Maicá. Ao todo, sete comunidades quilombolas deverão sofrer as consequências, diretas ou indiretas, com a implementação do projeto. “O porto dentro da região onde está proposto, tem enormes impactos, pois está em um bairro bastante populoso de Santarém, que é formado por ocupações. A chegada do porto deve retirar essas pessoas que estão lá. Sem falar nos problemas para a pesca no local, que é a fonte de subsistência de muitos moradores”, ressalta o coordenador da CPT de Santarém.
Para o senhor Paulo, morador de uma aldeia indígena do povo Mundurucu, da região de Santarém, a dificuldade de lutar contra a implementação dos portos no local está no poder que as empresas que irão operar essas estruturas. “A gente aqui tem dificuldade de falar, de criticar. Muitos moradores são intimidados enquanto os grandes são favorecidos. Eles dizem que o agronegócio vai gerar renda e emprego, mas o que eu vejo é gente sendo removida e sem ter onde trabalhar”, lamenta.
Jane Silva, do Ibase no Pará, afirma que a importância do seminário se dá por debater a construção desses portos em Santarém antes de suas construções e possibilitar que a sociedade conheça e debate os riscos socioambientais desse complexo de portos no Oeste do estado, principalmente sobre os territórios quilombolas e indígenas da região.