Itamar Silva
Diretor do Ibase
O “fato”: um jovem negro de 18 anos, Paulo Roberto Pinto de Menezes, morador de Manguinhos, deu entrada na UPA da comunidade na madrugada do último dia 17, levado pelos policiais da UPP de Manguinhos. Já estava morto.
O outro lado do “fato”: a família do jovem que deu entrada morto na UPA afirma que ele foi abordado pelos policiais da UPP de Manguinhos e levado para um caminho escuro da favela conhecido como “Beco da Esperança”. E ali foi espancado até a morte.
O que dizem os policiais: estavam fazendo policiamento em um ponto de uso de drogas quando avistaram quatro jovens em situação suspeita. E que, quando foram revistar o Paulo Roberto, ele teve um tipo de convulsão: por isso o levaram para a UPA de Manguinhos. Em outra matéria publicada pelos jornais, os policiais dizem que o jovem correu quando da aproximação da polícia e caiu desacordado. Isso os fez levá-lo para a UPA de Manguinhos. “Aí a história carece de exatidão”.
Quando o dia amanheceu, os moradores da favela – utilizando direito legítimo e constitucional – se manifestaram e fecharam as avenidas Leopoldo Bulhões e dos Democráticos. A polícia os reprimiu: atirou para o alto e entrou na favela atrás daqueles que arremessaram pedras na polícia. Uma adolescente de 17 anos foi baleada no braço. A polícia está investigando de onde partiu o projétil. E a família do Paulo Roberto está aguardando o laudo do IML que deve dizer qual foi a causa mortis.
Seria mais uma rotina da atuação policial em favela se não fosse o momento particular em que vive o Rio de Janeiro. As pessoas não querem e não vão se calar. No entanto, o que causa espanto é que, mesmo no momento em que está comprovada a atuação truculenta e covarde dos policiais que torturam, mataram e sumiram com o Amarildo, na Rocinha, a lógica se repete. Numa atitude desesperada, o chefe de polícia trocou a maioria dos comandantes de UPP. No entanto, os “novos” policiais da UPP de Manguinhos seguem seu ritual: prender, esculachar, espancar, matar e depois: mentir, reprimir, e ameaçar!
Chama atenção a justificativa que está sendo construída para desresponsabilizar a polícia: que o jovem era um drogado, com passagem pela polícia – e que não aceitou ser revistado. Logo, “não foram as agressões a causa da morte”. Talvez o inquérito conclua que a causa da morte tenha sido o fato do Paulo Roberto ter se escondido no “Beco da Esperança”, em uma favela do Rio de Janeiro.
Leia aqui a nota (que o Ibase apoia) de repúdio da Justiça Global sobre as arbitrariedades cometidas pelo Estado no ato em apoio aos profissionais da educação
Comentário 1
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Val
19 de outubro de 2013As Políticas públicas de segurança se fazem necessário porque sabemos que as atividades policiais são restritas, não podendo os policiais de alguma forma tentar educar o cidadão e sim só tentar puni-lo na forma da lei, isso também se deve a falta de preparo policial para lhe dar com o comportamento do delinquente, portanto a policia só visa o indivíduo como aquele que tem uma conduta criminal. Porém prevenção ao crime não é apenas responsabilidade policial e sim deveria ser compartilhada também por outros setores do Governo e da sociedade civil. Assim antes de procurar combater o crime se faz necessário entender a raiz do problema o que leva o individuo ao crime, o que leva a manutenção de atos violentes dentro de uma sociedade.