Rogério Daflon
do Canal Ibase
Membro da Comissão Brasileira Justiça e Paz, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), e da Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares, o arquiteto Francisco Whitaker dá uma sacudida no Brasil que continua dormindo quando o assunto é produção de energia nuclear. Nesta entrevista, ele rechaça a falta de transparência do Brasil sobre o tema e a possibilidade de um acordo nuclear entre Brasil e Japão. Após a entrevista, leia abaixo um manifesto no Dia Nacional de Luta dos Acidentados por Fontes Radioativas, o qual o Ibase apoia.
Canal Ibase: O Brasil toma as medidas de segurança necessárias em caso de um acidente com as usinas de angra?
Francisco Whitaker: Nos Estados Unidos, as medidas de segurança são mais rígidas que a nossa. No Japão, o raio de perigo é de 30 quilômetros. Em Angra dos Reis, onde há duas usinas e uma terceira que querem construir, o raio é de 15 quilômetros. Em 2011, quando do acidente nuclear de Fukoshima, houve uma pesquisa no Brasil, e 75% dos brasileiros foram contra o investimento em energia nuclear. Mas hoje não se toca mais nesse assunto. Um acidente em Angra pode atingir mais de 30 milhões de pessoas entre Rio e São Paulo.
Canal Ibase: Há falta de transparência no setor?
Francisco Whitaker: Já nos anos 1970 foi assim. O governo militar tomou a decisão de construir as usinas de Angra sem qualquer consulta à população. E hoje as fontes nucleares representam apenas 2, 1% das matrizes de geração no país. E a propaganda, enganosa, diz que se trata de uma energia limpa, segura e mais barata. O Brasil não pode esquecer o acidente em Goiânia, que, em 1985, matou quatro pessoas imediatamente e mais 13 em seguida com o vazamento de 19 gramas de césio-137, um dos lixos atômicos. Sem falar em doenças crônicas que causou. Em 1986, houve ainda o acidente em Chernobyl.
Canal Ibase: E quanto ao possível acordo nuclear entre Brasil e o Japão?
Francisco Whitaker: Os japoneses souberam antes dos brasileiros desse possível acordo. E já formaram um montão de movimentos contra isso. No Brasil, mais de cem entidades já se posicionaram contra a produção de energia nuclear, mas precisamos de mais entidades e mais pessoas para engrossar esse movimento.
“Oficialmente hoje é o Dia Nacional de Luta dos Acidentados por Fontes Radioativas. Hoje, também, lembramos o pesadelo de Goiania, que assustou o Brasil há 26 anos com o acidente do césio-137, que causou a morte imediata de 4 pessoas, contagiou milhares de outras, contaminou o ambiente e deixou toneladas de lixo atômico, depositados em Abadia de Goiás.
Redes, entidades e movimentos sociais e populares de vários estados entregam, hoje, uma Declaração, contra um acordo Brasil/Japão de cooperação na área da tecnologia nuclear, aos governos brasileiro e japonês, e também aos representantes da diplomacia nos dois países. Este fato está ocorrendo hoje, num gesto simbólico de solidariedade às vítimas de Goiânia, sobreviventes do maior acidente radioativo em zona urbana do mundo e às milhares de vítimas de Fukushima, cuja contaminação causada por seus reatores segue sem controle, dois anos e meio depois da tragédia.
Esta Declaração já foi entregue pela Articulação Antinuclear Brasileira (AAB), no Consulado Honorário do Japão, em Salvador. Mas também em solidariedade a todas os afetados por fontes radioativas do mundo, informamos que já estão no youtube (www.youtube.com/ArtAntNuclearBrasil/), os dez vídeos antinucleares realizados pela AAB, com o fim de democratizar as informações sobre as atividades nucleares e dar visibilidade aos perigos que representa o Programa Nuclear Brasileiro para as gerações presentes e futuras.Eles fazem parte da Mobilização Nacional por um Brasil Livre do Nuclear.
Os vídeos foram lançados em Brasília, em dois momentos distintos em que a política energética brasileira esteve em debate: durante a Audiência Pública que discutiu A Situação da Energia Nuclear Pós-Rio+20, na Câmara dos Deputados (22/5), e no ato público do Seminário sobre Política Energética (23/5), promovido pelo Fórum de Mudanças Climáticas e Justiça Social, no Centro Cultural de Brasilia.
Com o apoio do Fundo Socioambiental CASA, Fundação Boell, Rede Brasileira de Justiça Ambiental e Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares, foi possível trazermos abordagens diversas de personalidades, cientistas, pesquisadores, como o teólogo Leonardo Boff, a fisica e ativista ambiental indiana Wandana Shiva e o engenheiro Ildo Sauer (USP). Os depoimentos buscam combater o secretismo do setor nuclear que, aliado à desinformação generalizada sobre o que realmente se passou e se passa no mundo com a tecnologia atômica, deixa a sociedade inteiramente alheia às possibilidades das catástrofes que esta tecnologia pode causar.
A série de vídeos demonstra que esta tecnologia é suja, insegura, cara e perigosa e que a invisível, mas mortífera radioatividade, contamina o meio ambiente e as pessoas, causando destruição e morte. A matéria prima da energia nuclear pode ser usada na produção de armas de destruição em massa. Os vídeos foram feitos para estimular o debate sobre a política nuclear e agilizar providências para resolver os graves problemas causados pelos impactos sócio ambientais do Programa Nuclear Brasileiro”.