Na sua vida de militância, Betinho se envolveu em muitas campanhas, mas nenhuma teve tanta repercussão quanto a Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida. A campanha nasceu no dia 8 de março de 1993 com o objetivo de mostrar o caráter emergencial da fome no Brasil. No lançamento, foi divulgada a Carta da Ação da Cidadania, documento assinado por Betinho e outros ativistas que desejava chamar atenção para a situação dramática da miséria no país. De acordo com o Mapa da Fome elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), cerca de 32 milhões de brasileiros eram miseráveis em 1993.
Nos últimos 20 anos, o processo de tomada de consciência iniciado com a mobilização da Ação da Cidadania já conseguiu modificar o quadro da fome no Brasil de forma significativa. Os números divulgados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) comprovam o sucesso da campanha: entre 2010/2012, o número de pessoas que vivem em miséria no Brasil foi reduzido para 13 milhões. Cumprindo o primeiro dos Objetivos do Milênio, o país também conseguiu reduzir a proporção de subnutridos de 14,9% (1990/92) para 6,9% (2010/12).
Mesmo com grandes avanços, milhões de pessoas ainda passam fome no Brasil todos os dias. Motivados pela crença na incompatibilidade existente entre democracia e miséria, a luta da Ação da Cidadania é extremamente necessária até hoje. Em uma radiografia feita em 1995, Cândido Grzybowski, diretor do Ibase e um dos coordenadores do projeto, justifica a importância da campanha da seguinte forma:
“A principal motivação da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida tem inspiração ética. Na sua origem, um apelo: a fome, a miséria, a exclusão da cidadania, que pesa sobre milhões de brasileiros, é inaceitável de um ponto de vista ético. A fome não pode esperar. A sociedade não pode esperar que o desastre aconteça. Deve agir já. Deve tomar a iniciativa para inverter a lógica de apartheid e genocídio. Cabe à cidadania instituir a lógica da solidariedade em seu lugar. Cabe também à cidadania apontar o rumo para o Estado e o mercado, puxando governos e empresários para a inadiável prioridade de acabar com a exclusão social.
A resposta foi massiva, diversificada social e geograficamente, e surpreendente em sua capacidade de inovação. Trata-se de uma mobilização que combina uma radical descentralização para dar lugar à iniciativa dos comitês locais da cidadania e a parceria entre eles, com governos, com empresas. Por levantamentos do Ibope (em dezembro de 1993 e julho de 1994), sabe-se hoje que mais de 90% dos brasileiros acima de 16 anos aprovam o movimento; 30% participam efetivamente dele, 11% dos quais organizados em comitês (algo em torno de 3 milhões de pessoas) em diferentes partes do Brasil. A Ação da Cidadania, em 1993, deu ênfase à questão da fome. Em 1994, ampliou seu escopo para a questão da geração de postos de trabalho e renda com o slogan ‘Comida contra a fome, trabalho contra a miséria’.”