Da Plataforma BNDES
A história de Altair Guimarães é profundamente marcada pelo projeto de urbanização adotado pela cidade do Rio de Janeiro. Sua primeira experiência de remoção aconteceu em 1969, quando tinha apenas 14 anos. Ele e sua família foram obrigados a deixar a comunidade dos Caiçaras, na Zona Sul da cidade, para morar na Cidade de Deus. Na década de 90, durante a construção da Linha Amarela, Altair estava novamente no caminho do poder público e teve que abandonar sua segunda moradia. Hoje, ele é Presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo e luta contra a terceira remoção em 40 anos, legitimada pelas modificações urbanas para a Copa e Olimpíadas.
As violações causadas pelas obras de megaeventos não acontecem apenas na comunidade de Vila Autódromo. Outras 23 áreas da cidade também sofrem com o desrespeito aos direitos humanos, como mostra o dossiê lançado ontem pelo Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro.
A apresentação do documento foi acompanhada pelo debate “Esporte, Paixão e Negócio”, que teve como mediador Marcelo Edmundo, da Central dos Movimentos Populares. Além de Altair Guimarães, estiveram presentes na mesa o professor da UFRJ Orlando Santos Júnior e a relatora especial da ONU para o direito à moradia Raquel Rolnik.
Orlando Júnior, um dos responsáveis pela elaboração do relatório, apresentou os pontos principais do documento. A primeira questão é a posição de desrespeito do poder público ao direito à moradia. Outro tema são as obras de mobilidade urbana que beneficiariam menos a população e mais a especulação imobiliária.
A precarização do trabalho tanto nas obras de reformas de estádios, quanto na negação do direito ao trabalho de ambulantes durante a Copa do Mundo, também é alvo de denúncias. Para Orlando, a Lei Geral da Copa determina a “militarização do trabalho” durante os dias do evento. Questionamentos são feitos sobre o encarecimento do acesso ao esporte pela parceria público-privada, como a que está em processo de licitação para o estádio do Maracanã, e sobre a negação do acesso à informação, principalmente sobre investimentos financeiros nos megaeventos. O documento não deixa de debater o projeto de segurança pública que, segundo Orlando, está claramente voltado para a população mais rica da cidade.
Orlando enfatizou a gravidade da contribuição do BNDES no processo de violações aos direitos humanos. De acordo com o dossiê, o banco público é o principal investidor nas obras do Rio de Janeiro e o terceiro maior investidor do país nos megaeventos. Nas obras do sistema de transporte BRT foram investidos R$ 1,7 bilhões e a reforma do Maracanã, onde foi comprovado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) superfaturamento, recebeu cerca de R$ 400 milhões do banco.
A relatora da ONU Raquel Rolnik fechou a apresentação denunciando o uso das paixões brasileiras pelo futebol e pelo país em nome da especulação imobiliária. Como responsável pelo direito à moradia, Raquel lamentou que o poder público ignore as normas internacionais que definem esse conceito: “moradia adequada não é só uma casa. Moradia é a porta de entrada para os demais direitos humanos”. Ela também esclareceu que a pressão popular já conseguiu avanços importantes neste campo, como mudar o piso de restituição para famílias removidas de R$ 40.000 para R$ 80.000, e que a sociedade civil pode ter êxito na defesa de outros direitos.
Comentários 2
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Pascoal
21 de abril de 2012Sintomático. Os Governos [federal, estaduais e municipais],em nome do PROGRESSO, alteram a vida das comunidades, violentam a sua dignidade, restituem miseravelmente os valores, coisa que sai abaixo do que veradeiramente significa ESTAR ALI[naquele lugar]. Em Ilhéus, a realidade do INTERMODAL passa por esta mesma “onda”. Mas a Sociedade Civil está ATENTA e mobilizada para resistir.
Danger
23 de setembro de 2012I’m having ditifculfy understanding the Copa move. I know its an open break, but when you do the openbreak for the copa, do you need to move from the lady’s slot just like the cross body lead? Please respond.