Por Luiza Duarte
texto originalmente publicado no Opera Mundi
Fórum anti-G20 reivindica poder de decisão e avisa: ‘primeiro os povos, depois os bancos’
“Primeiro os povos, depois os bancos”. Foi com esse lema que cerca de 10 mil pessoas desfilaram nesta terça-feira (01/11) no primeiro dia do Fórum dos Povos, o Contra-G20, que acontece até sexta-feira (04/11) em Nice, no sul da França. ONGs, sindicatos, associações, organizações de esquerda e ecologistas se encontram a apenas 26 quilômetros de Cannes, onde começa nesta quinta-feira (03/11) o encontro do G20.
O Fórum dos Povos preferiu evitar o enfrentamento direto com os 12 mil homens deslocados para fazer a segurança das delegações dos 20 chefes de Estado presentes na maior cúpula internacional já organizada pela França, país que preside atualmente o grupo dos vinte. “Nós sabemos que o G20 e o G8 são muito bem protegidos. Fazer o fórum em Cannes criaria um clima de tensão entre manifestantes e as autoridades, o que não queríamos ver”, explicou ao Opera Mundi Gildas Jossec, porta-voz da Coalizão G8G20, organizadora do Fórum de Nice.
“Para nós, o G20 é ilegítimo. A busca de soluções globais deve envolver todos os países e não apenas esses 20”, apontou. A reivindicação dos altermundialistas é colocar o G7, G8 e G20 sob tutela das Nações Unidas e reformar essa instituição. Autofinanciado e com o custo total de 100 mil euros, o encontro reúne representantes de diversos movimentos, como o espanhol “Indignados”, o norte-americano “Occupy Wall Street”, o inglês “Coalition of Resistance”, militantes gregos e ainda os brasileiros da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas).
Apesar de terem diferentes demandas, as organizações concordam em pontos-chave: a não instrumentalização da dívida pública pelos mercados para destruir os serviços públicos; o desenvolvimento de mecanismos de controle para as operações bancárias; o fim de paraísos fiscais; ampliação da transparência das transações financeiras e obrigar os mais ricos a arcarem com o peso da dívida, dentre outros. Mesmo a igualdade de sexos, a defesa dos pequenos agricultores e a luta contra o aquecimento global e o desmatamento integram o programa.
Os militantes defendem ainda a criação de um fundo global de apoio a processos democráticos. “Todos os movimentos têm propostas que não são utopias”, diz Jossec. Aurélie Trouvé, co-presidente da ATTAC (Associação pela Tributação das Transações Financeiras para ajuda aos Cidadãos), questionou as medidas econômicas concretas para sair da crise. “Há 13 anos, nós lutamos por uma taxa sobre as transações financeiras. Antes, esta ideia parecia totalmente revolucionária, mas hoje é defendida por muitos políticos. Só que ficou na etapa do discurso. Queremos que ela seja realmente implantada.”