Por Bruna Ventura
No próximo sábado, dia 31 de março, o movimento Ocupa Rio retorna à praça da Cinelândia e promove um debate sobre as formas de representação política vigentes. “Não nos representa” é o tema da conversa, que convoca os cidadãos para o planejamento de uma nova maneira de organização social, que vai além do sistema representativo e da disputa partidária.
A manifestação tem início às 15 horas e conta com debates sobre identidade e propriedade, além de shows e performances. Marielle Ramires, ativista do movimento, usa as redes sociais para convocar participantes: “As ruas são espaços públicos a serem ocupados por pessoas, ideias e muito movimento”, afirma.
A frase da ativista resume o ideal que deu origem ao Occupy Wall Street, uma espécie de pai dos movimentos de ocupação mundo afora. Entenda esta história:
Occupy Wall Street, o chamado global
Um espaço público de discussão e consciência política. A partir dessa ideia, o movimento Occupy Wall Street, inspirado nos protestos árabes pela democracia, reuniu milhares de pessoas insatisfeitas com os rumos do capitalismo, crise mundial, desigualdade e corrupção. O movimento, que teve início em setembro de 2011, foi além das ruas de Nova York e se espalhou pelo mundo.
Quase um ano depois, estima-se que 950 cidades em 82 países tiveram alguma forma de adesão ao Occupy. No Brasil, o Ocupa Rio começou com a participação de 150 pessoas, que ocuparam a praça da Cinelândia no dia 15 de outubro de 2011. Uma semana depois, já eram 500 manifestantes instalados no local durante 40 dias.
O movimento pretende repetir a ação no dia 12 de maio, o 12M. Um texto colaborativo publicado no site do Ocupa Rio explica a ideia da reocupação: “Os caminhos estão abertos e queremos abrir ainda mais os espaços para exercermos a nossa liberdade de constituir os nossos próprios caminhos comuns. (…) Este chamado é aos 99% que, com o próprio suor e trabalho, sustentam a absurda acumulação de riqueza por parte do 1%”.
Em diferentes continentes, o chamado global por ação direta era o mesmo. A necessidade de um espaço público de debate, não somente simbólico, mas físico, fez com que grupos de reivindicações específicas se unissem sob um ideal comum, a democracia.
“A rua é um lugar público. Nós somos o público. Não precisamos pedir permissão para ocupar este espaço”. A ideia disseminada pelo movimento provocou a reação das forças policiais, que utilizou métodos semelhantes em diferentes países. Tentativas de criminalizar os manifestantes e reprimir as ocupações através da força, entretanto, geraram mais visibilidade e relevância política aos protestos.
No documentário a seguir, produzido pela rede de TV Al Jazeera, você vai conhecer a origem e o fortalecimento do movimento que “criou espaço na consciência política americana para uma nova forma de poder, controlado por pessoas e não por corporações”.
Occupy mundo afora
Confira aqui o mapa criado pelo blog do jornal britânico The Guardian com os lugares por onde o movimento se espalhou.
Próximos passos
Segundo a Adbusters, publicação canadense que convocou a primeira manifestação do Occupy pela democracia, o próximo passo do movimento seria um ato durante a reunião da cúpula do G8 (grupo dos oito países mais ricos do mundo), no dia 18 de maio, em Chicago. No entanto, a reunião foi transferida para Camp David, uma base militar impenetrável em uma área rural chamada Maryland.
Com a mudança de planos, os ativistas estão divididos entre três diferentes possibilidades: manter a ocupação em Chicago durante todo o mês de maio, a começar pela Greve Geral de Primeiro de Maio, ocupar Camp David, apesar das adversidades, ou simplesmente rir dos líderes mundiais.
Através da mobilização em redes sociais com a palavra-chave #LAUGHRIOT, os ocupantes estão programando uma “epifania coletiva de uso do riso como arma tática de afirmação de supremacia e perda de medo”.
“Quando Mubarak se recusou a negociar e tentou colocar seu povo na linha à força, ele foi deposto. Agora, a Casa Branca e o G8 estão repetindo os erros dos autocratas do ano passado. Primeiro eles tentam nos assustar com discursos duros de leis repressivas anti-Occupy, tecnologias para conter multidões e policiamento paramilitar, depois eles batem rapidamente em retirada para a segurança de Camp David. Os líderes do mundo estão fugindo de nós. Então o que fazemos? Talvez só rir deles?”, questiona um trecho da publicação.
“Vamos dobrar o G8 e a Otan diante de nossa vontade com táticas de choque e audaciosas subversões culturais que capturem a imaginação do mundo. Podemos estar muito mais perto de uma Primavera Global do que qualquer um de nós já se atreveu a imaginar até hoje”, finaliza. Essa é uma história que merece ser acompanhada.