Crédito: Agência Brasil
Do Observatório do Pré-Sal
O Observatório do Pré-sal e da indústria extrativa mineral ouviu um especialista para entender o que está por trás do inquérito do Ministério Público que denuncia as empresas Chevron, Transocean e mais 17 pessoas de cometerem crime ambiental e dano ao patrimônio público em virtude do vazamento de petróleo no Campo de Frade. Em coletiva realizada ontem, o procurador Eduardo Santos de Oliveira voltou a afirmar que o acidente não pode ser controlado pela Chevron. “Não há nenhuma maneira de parar esse vazamento até que o reservatório esteja esgotado”, disse Oliveira. Em entrevista a agência Reuters, Eduardo chegou a dizer que no momento do acidente a empresa tentava “indevidamente atingir a camada pré-sal”.
Leonardo Esteves é técnico químico de petróleo da Petrobras e trabalha na perfuração de poços. Para ele, a declaração do representante do MPF parece estar fundamentada nas investigações e é possível que a resolução do problema não esteja mais nas mãos dos profissionais da Chevron. “Por questões éticas ou capacidade técnica inconciliáveis com o problema em questão, pode ser sim que análises tenham comprovado que o óleo vai vazar até que se restabeleça o equilíbrio da pressão do reservatório que se comunica com o fundo do mar pela da fissura”, disse. Leonardo explica que existem duas medidas de contenção que poderiam ser tomadas, mas não têm eficácia garantida: uma delas seria a concretagem do solo através do poço que gerou o problema, já realizada quando houve o primeiro acidente; a outra seria a abertura de um novo poço para isolar a pressão, mas além de arriscada não se sabe até quando esta medida conseguiria estabelecer o novo equilíbrio.
Segundo Leonardo, o mais importante é que a investigação seja acompanhada por um corpo técnico especializado e indepentente, para que se entenda melhor o que houve. “Muitos fatores podem ter levado ao aumento da pressão no poço e ao consequente surgimento das fissuras, mas eles devem ser conhecidos, já que é papel dos técnicos fazer um projeto adequado de poço que permita esse controle, de acordo com a autorização concedida pelo estado brasileiro”.
O químico ilustra o que acontece durante a perfuração de um poço: “é como se houvessem toneladas de terra pressionando uma esponja cheia de líquido. Se você fura o poço e põe um canudo nessa esponja a tendência é que o líquido, pressurizado, saia pelo canudo”. É por isso que técnicos devem equilibrar o sistema, causando uma pressão equivalente no poço. “Devem ter cuidado, no entanto, para que essa pressão não gere fissuras no ponto mais frágil da formação rochosa”. No caso do Campo de Frade teria acontecido um desequilíbrio nessa pressão, o que levou ao aparecimento de rachaduras no solo. “Os técnicos trabalham com um limite de pressão que o solo suporta, dado por análises técnicas como o estudo de geopressão. Este solo também pode ficar mais resistente a pressões elevadas por um trabalho de revestimento e cimentação”, completa.
Leonardo suspeita que o acidente possa ter sido causado por estudos equivocados e principalmente por economia de dinheiro com projeto, equipamentos ou material. “As empresas privadas que exploram o petróleo querem obter lucro e podem assumir riscos de gerar um acidente brutal. Cada barril tem o custo de produção agregado no valor, quanto menores os gastos maior o lucro dessas empresas”. Outro ponto de crítica de Leonardo é a falta de transparência da empresa Chevron, que teria amenizado o acidente dizendo que se tratava de um exsudação: “a exsudação é um fenômeno natural, quando o óleo sai a superfície sem a intervenção humana”, explica, “o que aconteceu nos poços da Chevron foi um blowout, uma erupção descontrolada de petróleo para a subsuperfície”. E completa: “declarações já apontam que a Chevron teria tentado atingir camada de pré-sal. Isso só piora a situação da multinacional. Tentar explorar uma zona sem permissão agrega riscos maiores que foram omitidos, até para escamotear o ataque à soberania.”
O Ministério Público Federal espera que diante da gravidade das acusações a denúncia enviada ontem (21) seja rapidamente aceita pela Justiça. Ainda hoje a situação deve ser discutida em audiência pública da Comissão de Meio Ambiente e Defesa do Consumidor do Senado.