Por Sandra Jouan

Socióloga e

Coordenadora de pesquisa do Ibase

A velocidade dos acontecimentos políticos que o Brasil enfrenta nestes últimos dias não nos permite analisar com seriedade e isenção os fatos ocorridos. Respostas precisam ser dadas diante deste achincalhamento político e vergonhoso desenrolar da política nacional que estamos vivenciando, onde as instituições democráticas correm sério perigo de serem sucateadas, a liberdade de informação é cerceada e brasileiros e brasileiras são covardemente atacados sem direito a se defenderem, fruto de uma perseguição sem precedentes na história do país, ou melhor, semelhante aos momentos obscuros da ditadura militar.

Engano das pessoas que pensam que essa reação está relacionada a luta contra corrupção, nunca em momento algum de nossa história houve um período em que as instituições pudessem averiguar de forma tão livre e transparente estes processos. Que existe uma grande insatisfação com relação ao sistema político brasileiro, que as pessoas não se sentem mais representadas pelos parlamentares, tudo bem, entretanto, poucos foram as pessoas que se indignaram contra o financiamento privado de campanha e poucos foram os que se engajaram na luta pela Reforma Política para que essa realidade mudasse.

Falam de segurança, entretanto, não se indignam contra o genocídio da população jovem negra das áreas pobres. Naturalizam como necessária a violência impetrada contra a população pobre. Falam de um novo Brasil, “que o povo acordou”, para que e para onde? Que projeto defendem? O ódio tem lado, tem posicionamento, mesmo que muitos deles não tenham conhecimento que lado é este. A sociedade brasileira não é igual, tem divisões, tem conflitos e contradições e somente num regime democrático é possível que os lados possam dialogar, que os conflitos possam aflorar e se buscar consensos possíveis. Como disse Ziraldo no livro “Menino Maluquinho”, “Todo lado tem seu lado. Eu sou o meu próprio lado. E posso viver ao lado. Do seu lado, que era meu.”

Preocupa ver um um Juiz se intitular justiceiro do país, atacar as instituições republicanas, expor a Presidenta Dilma e o ex-presidente Lula de uma forma tão vil, direcionar seletivamente a campanha de “Mãos Limpas” para um partido e ser ovacionado nos atos de rua, como se fosse o salvador da pátria, o salvador dos males do país, o ente que paira sobre tudo e todos, nem que para isso venha a manchar a imagem do poder judiciário, nem que para isso ultraje a prerrogativa de julgar de acordo com as regras constitucionais do país. O juiz Moro está servindo a quem? Por que quer fomentar tanto ódio? O mundo tem lado. O momento político brasileiro é de definição de lados e projetos. E realmente estou do lado dos ideais e anseios populares que podem ser covardemente atacados e sucateados.

Estou do lado das forças populares.

Estou contra o golpe.

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