Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2014
Por Rogério Daflon
Do Canal Ibase

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O conversatório sobre eleições promovido pelo Ibase trouxe à tona algo que anda adormecido: a vontade de se discutir política. Vladimir Palmeira, quadro histórico da luta contra a ditadura e um dos fundadores do PT, José Maurício Domingues, sociólogo do Iesp, Eleutéria Amora, feminista e diretora da Abong, e Cunca Bocayuva, professor de Políticas Públicas para Direitos Humanos da UFRJ fizeram do auditório do Ibase uma pequena ágora, na qual não faltaram discordâncias, como todo bom debate. Uma das qualidades da discussão foi pensar o país no amanhã, ou seja, após o resultado das urnas. José Maurício admitiu sua perplexidade com o momento. Teme o crescimento da direita.
– O Joaquim Barbosa, por exemplo, está quieto no seu canto, e depois de quatro anos de mandato de presidente, pode estar à disposição – afirmou Domingues, referindo-se ao ex-presidente do Superior Tribunal Federal, que recebeu grande apoio de setores conservadores, da imprensa tradicional inclusive, no processo conhecido como Mensalão, no qual quadros do PT terminaram presos, como José Dirceu e José Genuíno.
Cunca ressaltou que justamente o mensalão significou uma guinada do PT à direita, mas prevê uma radicalização desse desvio caso Dilma Rousseff não seja reeleita.
– Agora temos de pensar se optamos pela reeleição ou por um segundo turno, opção em que a direita está bem mais interessada-, disse Cunca, acrescentando que há uma questão cara a quem pensa o futuro do país
– Minha dúvida é simples: esgotou-se o modelo do PT, mas para onde ir?
Eleutéria Amora tem um caminho. Encarar as questões concretas, que deixam a população à míngua quanto a serviços que deveria ser básicos; “Duas mulheres morreram recentemente ao fazerem abortos em clínicas clandestinas. É um tema que não está sendo discutido nos debates presidenciais. Enquanto isso, mulheres vão continuar morrendo”?
Vladimir Palmeira, contudo, tem outra resposta na ponta da língua quanto ao rumo do país: Marina. Na visão dele, a candidata do PSB, posto que Dilma, acentuou ele, significaria o agravamento da crise econômica. “Lula fez um mandato mantendo a economia em bons patamares, mas Dilma acabou com nossa economia. Marina, com toda a fragilidade que ela tem, tem a melhor visão de longo prazo do Brasil. No que depender dela, vai fazer a reforma tributária e política”.
Diretora do Ibase, Moema Miranda questionou Palmeira em relação ao “fundamentalismo de Marina”. Ele respondeu informando” que o fundamentalismo da candidata não vai impedir que ela dialogue sobre temas polêmicas e toma decisões com base nos anseios da população”.
O niilismo não passou por perto do discurso dos debatedores. Mas, à exceção de Palmeira, que vislumbra um bom governo de Marina em caso de uma vitória dela na eleição, os demais veem graves problemas a serem enfrentados.
– Do jeito que a estrutura política está não vejo como evoluir. As políticas sociais atuais têm cunho liberal, disse José Maurício.
– O sujeito pensa em como vai ter plano de saúde e não em como ser atendido no SUS. Isso é uma vitória ideológica do capitalismo”, afirmou Cunca Bocayuva. Para ele, há divisões internas absolutamente desnecessárias nos movimentos sociais.
Todos, ao que parecem, apontam para a necessidade de haver mais maturidade política do Brasil, independentemente do que as urnas vão dizer nos próximos dias.

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