As agências Ajuda da Igreja Norueguesa, Christian Aid e Pão para o Mundo se reuniram na cidade de Berlim para avaliar, compartilhar e atualizar as suas políticas institucionais em relação ao Brasil e o papel do Processo de Articulação e Diálogo (PAD) no atual contexto. A conclusão é de que os debates sobre o “Brasil real” levados a cabo no espaço do PAD continuam vigentes para subsidiar as decisões da cooperação ecumênica.
O foco no “Brasil real” traz por um lado, embutida a análise dos avanços do Brasil em relação ao passado, inclusive importantes de serem vistos, também como um enorme êxito do trabalho incansável da sociedade civil organizada e de certa forma, da própria cooperação internacional a partir de sua significativa contribuição prestada ao longo das últimas décadas.
Por outro lado, esta análise evidencia, de forma acentuada, as contradições do modelo de desenvolvimento. Essas contradições são hoje exarcebadas pela persistência da desigualdade e pelos impactos dos mega eventos e dos projetos de infraestrutura. A mobilização da sociedade – e a continuidade de seu apoio também através da cooperação internacional –  é no entender das três agências importante para os avanços continuarem, tanto nas políticas públicas no Brasil como nas politicas internacionais onde o Brasil, como ator global, está exercendo um novo papel hoje.
As três agências de cooperação ecumênica entendem que hoje é fundamental mostrar a realidade brasileira a partir dos seus avanços e dos obstáculos – o que ainda falta – para uma vida plena para todos aqueles que sofrem as causas e as consequências da desigualdade, da violação dos direitos. Para isso, entendem que é necessário um olhar e uma análise diferenciada, um debate coletivo que vai muito além do apoio a projetos.
Uma rede plural
Para tanto, o PAD continua vigente porque continua sendo uma rede especial, que junta diversos atores, para troca de idéias, trabalhos conjuntos e criação coletiva de análises e atividades inovadoras. É importante também na compreensão da abrangência do ecumenismo em um sentido amplo. A presença dos movimentos sociais é fundamental pela capilaridade que possuem junto à sociedade brasileira. As agências compreendem isso e apoiam seja de forma direta ou indireta, via vários atores, os movimentos sociais e suas bases.
As relações de parceria ecumênica continuam importantes para as três agências e, neste momento de consolidação do Forum Ecumenico da Aliança ACT no Brasil, compreendem que o PAD tem sido um espaço exemplar para a sua articulação com outras esferas de atores sociais no Brasil.
Temas candentes

As agências reafirmam a importância do significado, para o Brasil real, dos temas de modelos de desenvolvimento, a repressão/criminalização dos movimentos sociais e direitos, a necessidade de superação das desigualdades e injustiça social através de políticas públicas estruturantes e todo o trabalho que isso envolve em termos de trabalho de base, incidência política, articulação e alianças.
O PAD é uma experiência concreta e histórica de ação conjunta entre agências ecumênicas de diferentes países e diferentes dinâmicas, que antecede processos mais recentes de diálogo Norte-Sul. Hoje, as agências se encontram em processos dinâmicos de reorganização programática e estratégica, articuladas com novos e desafiadores processos políticos, econômicos, culturais e sociais que ocorrem na Europa. Em 2011, em reunião semelhante realizada em Londres, em discussão com Paul Valentin, diretor internacional da Christian Aid, o cenário da cooperação e a dificuldade de continuar no Brasil nos próximos 5 anos era algo bem concreto.
Hoje, apesar dos diferentes cenários e das especificidades de cada país, há vitórias nas três agências a partir dos esforços de reforçar a argumentação interna em favor da continuidade da cooperação no Brasil. Apesar da diminuição do apoio do governo norueguês ao desenvolvimento a partir das próximas eleições, do aumento do debate sobre a ajuda internacional aos países de renda média, da continuada crise no Reino Unido e na Irlanda, persiste a confiança de que esta cooperação ecumênica prossiga apoiando a luta contra a desigualdade e pelos direitos no Brasil.
“Estamos cientes de que a continuidade da nossa presença no Brasil vai na contra mão dos crescentes (e acalorados) debates nas sociedades e nas agências européias, canadenses e norte americanas sobre a presença nos países de renda média, o novo papel dos BRICS e das chamadas economias emergentes.  Não obstante, tendo em vista o quadro acima descrito, nossa agências reafirmam a presença no Brasil por todas as questões pontuadas e por sua importância frente às relações Sul/Sul, tanto no que diz respeito às relações de parceria entre organizações da sociedade civil, quanto às políticas de cooperação governamental. Portanto, persistem com a cooperação no Brasil; ao mesmo tempo, consideramos fundamental que as organizações brasileiras continuem lutando pela democratização dos recursos públicos e fundos nacionais e incrementando a visibilidade e legitimação de suas ações frente à sociedade brasileira, de forma a contribuir para garantir cada vez mais a sua futura sustentabilidade, de forma  autônoma e  independente dos debates que continuarão a ocorrer, seguramente, dentro da cooperação internacional”.
 

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